domingo, 12 de dezembro de 2021

um dia bacana depois da pandemia...

Depois de quase achar que não sobreviveria ao genocídio patrocinado pela escuridão do boçalnarismo, cá estou ainda graças às vacinas e ao triunfo da luz sobre as trevas e assim, ontem as 11:00s hs, fui ao lançamento do livro do Eduardo Suplicy, a quem admiro enormemente, porque achei que seria uma forma bacana de me presentear no dia do meu níver, principalmente por ser na praça Dom José Gaspar, que juntamente com o Copan, foi onde tudo de fato começou em 1981.

Quando eu já estava pensando em voltar para casa, a coisa desandou porque a Marcia resolveu comprar uma garrafa de Claudionor na cachaçaria da praça, acompanhada de uma bacia de torresmo quentinho e tudo começou a mudar...  rs, iniciou-se ali a via crucis dos botecos, passando pelo copanzinho, bar do Waldo, Marinus e encontrando amigos, até chegar em casa já bastante estragado, quando uma surpresinha da Bruna me aguardava. Um bolinho com velinhas rs... e eu nem me lembro de ter ganhado algum dia na minha vida de adulto um bolo com velinhas, achei o máximo, além de incrivelmente delicioso e fui dormir feliz carregado de lembranças que surgiam afuniladas pela Rua Normandia (ligação da Av São Luiz com o Copan) que ainda está intacta com seus lustres magníficos... Obrigado a todos que foram aparecendo pelo caminho durante a procissão Claudionor e que tornaram o meu dia mais divertido; Edu, Rosely, Marcia, Caetano, Sônia, Suplicy, Haddad, Mauricio,  Nero, Marcelo, Bruna, Lucas, Gabriel, Carol e cia... Fotos aqui.


 

sábado, 6 de novembro de 2021

Parque Augusta

 

Passados mais 10 anos da disputa entre os moradores da área central da cidade, poder público pressionado e as incorporadoras proprietárias dos terrenos onde havia o último pedacinho de mata primitiva no centro da cidade, foi inaugurado hoje, finalmente, o tão esperado Parque Augusta.

No bosque, além de um cedro rosa com mais de um metro de diâmetro, tem outras tantas nativas da mata atlântica e vi lá uma embaúba de uns 15 metros de altura, Jerivá, figueiras etc... e ouvi dizer que muitas espécies de aves em risco de extinção que encontraram abrigo ali em todos esses anos em que a área permaneceu fechada continuam presentes ali e protegidas.

A ansiedade era grande, principalmente para saber como seria o parque e qual não foi minha surpresa ontem quando entrei no local, pois ficou tão bacana, tão aconchegante e com espaços variados para todos gostos, idades, pets e muito mais....

Por ser o primeiro dia, estava muito lotado e mesmo assim pude relaxar alguns momentos debaixo de um jequitibá, quem diria!?  Para ver algumas fotos clique aqui.

A despeito de críticas pontuais como a de que a prefeitura indenizou as incorporadoras pagando o dobro ou o triplo do valor às construtoras através de certificados, concessões etc, pela primeira vez o interesse coletivo ganhou uma do mercado imobiliário que planejava erguer no local, três ou quatro arranha-céus para que uns poucos endinheirados pudessem desfrutar do último bosque da cidade com “exclusividade”.

Então só temos que comemorar e aproveitar agora.

Justamente a um mês de comemorar 40 anos desde que cheguei aqui, ganhar esse parque foi um presentão e me lembrei de uma uma frase do Arrigo Barnabé sobre a cidade; “São Paulo, quem bebe desse veneno não morre em outro lugar”

sexta-feira, 25 de junho de 2021

São Paulo Resiste na Pandemia

Fazia tempo que não precisava trajar um terno e hoje às 8:00hs eu estava na Av. Faria Lima tomando café, paramentado como nos anos 80 quando trabalhava no London Multiplic Bank. Fiquei deslocado no tempo e lugar. Achei a avenida meio morta e em nada me lembrava a vibração daquela época. Senti o peso da nostalgia enquanto matava um pingado observando o balançar dos muitos quadris que desfilavam pela calçada

Depois, ainda a trabalho, fiz um périplo pelo Jardim Europa, Moema, Vila Nova Conceição e voltei pra casa com a sensação de que a pandemia sugou o elã da cidade.

Voltei para o meu centro velho de guerra, me troquei e pensei em aproveitar o restante do dia para conhecer três novos lugares perto de casa que inauguraram com a maior falação em várias mídias:

 “Térreo Café” num prédio novo no Largo do Arouche onde há uma placa esclarecendo que no local em 1893 ficava a “Cocheira Anglo Francesa” que foi a primeira Hospedaria e Clínica Veterinária da cidade especializada em Cavalos.  Não vi nada demais no lugar e estava vazio e xoxo.

 “Box 7 Pescados e Frutos do Mar na avenida Amaral Gurgel - Lugar bacana fui atendido pelo próprio dono com camiseta do Black Sabbath e muito atencioso, respondendo à minha pergunta se ele não achava que ali era o último lugar do mundo para aquele comercio, rindo explicou-me que era exatamente este o motivo e se eu não tivesse acabado de matar um mega PF de costela, teria levado uma lula fresquinha por preço honesto. Achei demais o lugar e voltarei lá.

 “Livraria Gato sem Rabo”. Também na Av. Amaral Gurgel, ganhou quase um caderno inteiro da Folha bla, bla, bla..., mas é só mais uma livraria dessas sem livros que está na moda. Minha amiga livreira Jú, me explicou por ocasião da minha surpresa com outra livraria badalada (Copan) dessas sem livros, que aquele modelo (de negócios) de livraria com centenas de milhares de livros acabou e que agora é mais assim mesmo, um lugar com alguns livros mais vendáveis com acabamento luxuoso, brochura e tal...  um café e um sofá retrô. Enfim um lugar para ir ver, ser visto e falar groselha sobre algum livro tipo “Milagre da manhã” ou “Mulheres que correm com os lobos” etc.  Não tenho nada contra esses títulos inclusive. Só não entendo porque esses lugares devam se chamar  livrarias.

"Brechó Colmeia" (onde era o Cinearte Arouche A ou B), é um lugar incrível para garimpar objetos de arte, decoração, roupas, livros, discos e tudo o mais que a gente nem imagina. Vi um quadro com um garfo de prata com fisga que não entendi a função por uma pequena fortuna, uns flamingos gigantes de algum material tipo resina por uma fábula, deviam ser decorativos de algum jardim daquelas mansões dos barões do café em Campos Elísios,  um jogo de jantar que parecia ter uns 200 anos por 5 mil reais e umas pessoas bem interessantes. Acabei comprando uma jaqueta  legal e quase fiquei amigo íntimo da vendedora.

Enfim ando esses dias talvez, numa espécie de canto do cisne ou algo do gênero, na cidade que mais gostei e ainda gosto, mas sinto que está chegando a hora de respirar novos ares. Já fui embora tantas vezes dessa cidade que é a única que presta no Brasil -entre as que conheço-, e sempre volto. Vá entender!


 

 

sexta-feira, 4 de junho de 2021

um dia bacana

Hoje saí com a Marcia para pedalar por uma trilhazinha aqui perto de casa no massaguaçu e no caminho tem uma figueira bem em frente à ilha da Cocanha onde a gente para pra tomar agua e olhar a exuberante paisagem e hoje vi uma preguiça descendo da figueira para o chão e fiquei preocupado porque passam cachorros por ali e não demorou muito até aparecerem dois avaliando a situação. Então afugentamos os cachorros e peguei ela, tão linda e fofa e coloquei de volta nos galhos da arvore, mas ela sempre voltava para nossa direção com a pata esticada como que pedindo colo e descia ao chão novamente..., e o bicho é fofo demais, enternecedor mesmo. Depois de alguns fracassos, entramos mais para dentro da mata e a Marcia colocou ela numa arvore mais longe da trilha, deixamos uma maçã e saímos correndo torcendo para ela ficar lá.
Desde os dia 13 de março de 2020 foi a a primeira vez que eu saí para tomar sol, pedalar e relaxar um pouco e justamente hoje veio esse presente para lembrar que a vida -sem tanto medo do corona-, é boa demais.
Para ver todas as fotos da preguiça clique aqui.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Biografia de Philip Roth na mira dos canceladores


Toda vez que entro em um avião eu fico pensando se o piloto e copiloto dormiram bem, se estão descansados, bem-dispostos etc... Nunca me preocupo com suas condutas sexuais, religiosas, defeitos e virtudes etc... Penso que o importante é realizar bem seu trabalho de pilotar, decolar e pousar em segurança, mas em tempos de cancelamentos, nem todos pensam assim.

No mês passado, a editora W.W. Norton & Company tirou de circulação a biografia de Philip Roth depois que o autor, Blake Bailey, foi acusado de agressões sexuais nos anos 90 por ex alunas.

Felizmente o livro agora voltará às prateleiras por uma nova editora, a Skyhorse Publishing que é a mesma que publicou a biografia de Wood Allen que também havia sido cancelada pela editora Hachete igualmente por motivos “morais”.

Por aqui, a companhia das Letras suspendeu por tempo indeterminado a publicação da biografia de Roth, antes mesmo de concluir a tradução do catatau de 921 páginas.

Bem, se o aclamado biografo Blake Bailey (que foi escolhido por Roth antes de morrer) for mesmo culpado pelas acusações de suas ex-alunas, que seja julgado com os rigores da lei sobre assédio, mas cancelar o livro -considerado excelente pela crítica especializada- parece com, furar novamente a sola de um sapato que fora bem consertada por um excelente sapateiro, após descobrir que o mesmo foi acusado de algum delito anos atrás.

A propósito, Fernando Schüler analisou este comportamento (bizarro!?) em um bom artigo que pode ser lido aqui.

Obs: Por falar em cultura de cancelamento, nestes tempos em que não se pode discordar de nada que tenha a chancela de “correto”, os julgamentos recaem não apenas sobre celebridades, mas atingem quaisquer de nós mortais por qualquer motivo. Semanas atrás, quase fui "cancelado" quando falei, que não estava ainda convencido da urgência urgentíssima da campanha pelo pronome neutro... diante de outras urgências LGBTQIA+ Receio que se não aderir logo, serei declarado inimigo das boas e santas causas brevemente.

domingo, 23 de maio de 2021

Paulo Mendes da Rocha


Lamento enormemente a partida do Paulo Mendes da Rocha que para mim representava um tipo forte de antídoto à burrice em todos os níveis, mas ele para além de sua genialidade, simbolizava acima de tudo uma resistência contra a imperiosidade do consumismo, do corporativismo e da covardia imobiliária com as cidades -com a cumplicidade da classe merdia e alta-, tão bem exemplificada no lucro custe o que custar, em detrimento de um urbanismo minimamente civilizado.

Como admirador, durante anos eu guardei algumas entrevistas dele e resgatei agora uma de 2004 (se não me engano), que é profética e permanece atualíssima e imperdível para quem se interessa por arquitetura e urbanismo. 

Vá em paz, Paulo. Boa viagem!


 ** Atualização:

Jornal da USP fez uma matéria bem bacana sobre ele aqui

sábado, 24 de abril de 2021

Porque a Rússia gerou tantos escritores fundamentais no século 19 !?

Folha de São Paulo

Entenda por que a Rússia gerou tantos escritores fundamentais no século 19

'Como Ler os Russos' destila a cultura que produziu autores como Tolstói, Dostoiévski, Tchékhov e Púchkin

Por Walter Porto

SÃO PAULO

No ensaio “Tolstói ou Dostoiévski”, o crítico francês George Steiner comenta o que chama de “anni mirabilis da ficção russa”. Foram anos de um “suprimento de genialidade” que pode ser comparado “aos períodos dourados de criatividade na Atenas de Péricles e na Inglaterra elisabetana”. “Estão entre os melhores momentos do espírito humano.”

Qualquer pessoa com algum conhecimento de literatura entende mais ou menos do que ele está falando. O século que começou com Púchkin e terminou com Tchékhov, para usar a construção de Irineu Franco Perpetuo, concentrou ainda autores como Gógol e Turguêniev, além dos pais de “Anna Kariênina” e dos “Irmãos Karamázov”.

Perpetuo, que está publicando o guia “Como Ler os Russos”, tem algumas hipóteses para o que provocou um clarão literário tão esplendoroso.

Primeiro, a guinada ocidentalizante tardia da Rússia, que torna os pais fundadores de sua literatura mais próximos de nós, em termos sociais e temporais, que outros oráculos como Shakespeare e Cervantes. “Parece que a literatura russa chega atrasada e resolve tirar o atraso muito rápido, queimando etapas e ditando normas.”

A aproximação da Rússia com a cultura europeia veio com Pedro, o Grande, na virada para o século 18, e se aprofundou no reinado de Catarina, logo depois. Como descreve o crítico, o país engole com voracidade a cultura francesa e regurgita depois uma literatura “que não tem nada a ver com a francesa, numa síntese única”.

O que ocorre então, no sentido contrário, é que a literatura russa passa a ser fonte de inspiração para a Europa, nos fins do século 19. O nível de contágio entre a intelectualidade europeia e a brasileira, nessa época, é algo que começa a explicar a entrada dos russos por aqui, uma invasão que Perpetuo aponta

O crítico e tradutor abre esta obra que chega às livrarias agora afirmando que “se é possível escrever no Brasil um livro chamado ‘Como Ler os Russos’, é porque a questão ‘por que ler os russos?’ parece respondida de antemão”.

Afinal, a literatura de lá se faz tão presente entre nós, e há tanto tempo, que “não chegamos a ponderar no que há de espantoso em sua inserção numa sociedade em que a parcela de imigrantes russos é tão escassa”.

Durante a entrevista, Perpetuo ensaia algumas explicações sobre aspectos que aproximam os dois países, como as proporções continentais e a geopolítica periférica, mas sempre acaba retornando para a força extraordinária da expressão daqueles autores.

O que leva a um outro fator de distinção. “A literatura na Rússia sempre foi mais que literatura. O escritor era visto como uma espécie de profeta.” Ou, voltando a citar George Steiner, “Tolstói e Dostoiévski não são apenas lidos, eles são acreditados”.

Na Rússia não havia nem resquício de um sistema democrático, lembra o crítico brasileiro, o que transformou a expressão literária num dos meios fundamentais de circular ideias políticas —já que não havia púlpitos de partidos durante todo o século 19, sob os desmandos dos czares.

Por isso também o conflito com a censura e a perseguição sempre foi intrínseco à cena intelectual russa —são inúmeras as histórias de escritores exilados, encarcerados, fuzilados. Como disse o crítico Vladislav Khodassévitch, que se radicou em Berlim, “em nenhum lugar fora da Rússia as pessoas foram tão longe, por quaisquer meios possíveis, para destruir seus escritores”.

Ou, nas palavras famosas do poeta Óssip Mandelstam, morto pelo regime stalinista —"em nenhum lugar do mundo se dá tanta importância à poesia: é somente em nosso país que se fuzila por causa de um verso”.

“Como Ler os Russos” avança durante todo o período soviético, passando pelo degelo que revelou o “Arquipélago Gulag” de Aleksandr Soljenítsyn, se estica até autores desterrados como Vladimir Nabókov e Joseph Brodsky e chega até os contemporâneos, forjando um panorama robusto dos nomes e correntes artísticas indispensáveis ao leitor.

Ao longo do livro, as citações tiradas das dezenas de obras literárias analisadas são raríssimas, mas Perpetuo mobiliza longos trechos da melhor fortuna crítica que se produziu sobre a Rússia.

O mais frequente é Boris Schnaiderman, um dos principais fios condutores da entrada da língua russa no Brasil. “Fiz questão de trazer o pensamento crítico brasileiro”, afirma Perpetuo. “É um livro de um brasileiro para brasileiros, levando em conta o contexto do país.”

Contexto, aliás, mais pujante do que nunca, com diversas editoras se animando em escavar clássicos da terra de Putin. Já faz duas décadas, diz o autor, que a tradução direta do russo se tornou regra por aqui, onde antes vicejavam traduções mediadas pelo francês.

Assinalando o marco inicial no “Crime e Castigo” que Paulo Bezerra transpôs em 2001 para a editora 34, ele diz que hoje recebe propostas até para traduções diretas de livros científicos.

Vale comentar que Perpetuo traz o olhar externo do estudioso, mas também o interno do tradutor experimentado. Suas versões do clássico “Anna Kariênina” e do contemporâneo “Meninas”, de Liudmila Ulítskaia, chegam no mês que vem pela 34, que já tem na gaveta também sua tradução inédita de “Guerra e Paz”.

A crítica chama de “febre de eslavismo” a reação entusiasmada dos leitores brasileiros ao intenso desembarque de obras russas no país, nos anos 1930. Ela nunca deu sinais de arrefecer. E, tendo contaminado gente como Clarice Lispector, Graciliano Ramos e Nelson Rodrigues, é seguro dizer que já está devidamente incorporada aos nossos genes