segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Pobre soterrado é efeito colateral

De repente comecei a receber um monte de ligação pra saber se eu estava vivo... até de gente que eu nem lembrava rs... Enfim, muita falação sobre a chuva torrencial, mas não tem nehuma novidade, na real.

Todo ano é assim!  Nunca muda.

Triste essa história do capitalismo financeiro e o mercado imobiliário estocarem os terrenos com 100% de habitabilidade e deixar aos menos favorecidos somente encostas e áreas alagadiças. É preciso votar melhor! É preciso aperfeiçoar e fazer valer uma a lei de uso e ocupação de solos decente.

Todo ano tem essas chuvas torrenciais, deslizamentos, alagamentos todos ficam indignados, o Datena fica gritando, a mídia faz barulho, todos ficam assustados etc e tal ...e se solidarizam com os vizinhos e cada buraco vira notícia, e depois tudo se acalma, os mortos são esquecidos porque são pretos e/ou pobres e no Brasil nós temos o conceito de fatalidade também que ajuda pra caralho, né!?  E quando a fatalidade não cola, ainda tem o argumento divino que sempre funciona, basta jogar a conta nos ombros do altíssimo que tudo se ajeita.

Massss, o ano que vem acontece tudo igual novamente, porque não há investimento em infra- estrutura, e principalmente educação e os ricos/capital continuarão a grilagem e titulação das áreas úteis para a habitação dando sequência à histórica estocagem dos melhores terrenos pra especular no momento certo, sob as vistas grossas ou conivência do poder público desde sempre, e amparada por uma ideia equivocada, injusta e conveniente de propriedade privada, elaborada e pensada para substabelecer privilégios e manter os pobres a distancia pendurados nas encostas, nos brejos e sempre sujeitos a intempéries e a morte, inundados, soterrados e alagados.

As estradas nessa época serão erodidas etc..., mas sempre haverá uma empreiteira já pronta para ganhar a “licitação” e fazer um reparo vagabundo que irá desabar nas próximas chuva e para o ciclo eterno recomeçar e a roda do capitalismo de compadrio continuar a girar a favor dos mesmos de sempre.

Podemos aguardar, que o ano que vem terá a repetição ad nauseam e nova edição da lamentações e culpabilidades climáticas e divinas que sempre atingem a mesma classe social e em lugares imprestáveis para habitação.

Certa vez morei em São Sebastião e passei por três inundações dessas em um ano e meio. Lembro de ter ficado dias inteiros de balde e rodo na mão e rezando pra parar de chover e essa casa esse bairro por exemplo existe há 30 anos e todo ano fica debaixo d´água.  Depois de um ano e meio, vazei porque apesar das promessas, o sistema econômico-político não é pensado para favorecer os bairros que mais precisam.  Ele é arquitetado pela ganância e voltado para a acumulação e benefício dos mesmos sempre, sempre.

De vez em quando alguma casa de burguês também vai p/ vinagre, mas é raro e eles tem seguro.

...e ademais quando os bem postados sofrem algum revés, nunca ficam inundados segurando o Tevê na cabeça. Apenas perdem ou ganham mais ou menos bilhões a cada vicissitude da vida. O problema deles é do tipo que está acontecendo no imbróglio das Lojas Americanas; quem roubou quem (entre eles mesmos), e quem sairá da esperteza com mais ou menos bilhões.  E são essas pessoas que patrocinam políticos que fazem as leis que visam beneficia-los e nunca quem de fato precisa.

Quem morre soterrado e ou perde a TV e o liquidificador comprado em 24 pagamentos nas casas Bahia, -quando não a própria vida-, são os pobres e/ou pretos. Para eles, a sociedade destina uns três dias de notícias, comoções, lágrimas de crocodilo, algumas cestas básicas e sobrevoo de helicóptero de governador, promessas e já está bom demais.

O importante é que a máquina de moer gente da economia selvagem, não pare só por causa de algumas poucas vítimas da “fatalidade” ou os “desígnios de Deus.”

Moral da história; Pobre soterrado é só efeito colateral.