quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Será que a Av. Paulista terá mesmo destino que a R. XV de Novembro?

No início do século XX as propagandas diziam algo mais ou menos assim: “Agora você não precisa mais ir a Paris porque Paris está aqui” referindo-se ao comercio e ao requinte da R. XV de Novembro que agora é uma várzea...

Em 1981 meu primeiro emprego foi na XV de novembro 317 Banco Sogeral, na função de “Contínuo” (uma espécie de Office Boy interno) da Diretoria, de onde Sairia o Presidente do Banco Central, Dr. Elmo de Araújo Camões para quem eu comprava diariamente, almoços e lanches nos saudosos restaurantes Dix, Guanabara, Leiteria Miguel Couto, etc.

A XV de novembro era ainda linda, limpa, movimentadíssima e o coração financeiro da cidade com a Bolsa de Valores e sede de vários bancos, mas o êxodo, ou melhor, abandono do centro já havia começado.

O saudoso e premiado arquiteto Paulo Mendes da Rocha, a respeito desses movimentos, costumava dizer que o mercado Imobiliário era um dos principais responsáveis pelo abandono de vastas áreas da cidade que em sua visão era um” projeto”.

Começou com o mercado imobiliário proclamando que “A região central estava decadente e que o “chique no último”, era se mandar para a Av. Paulista, e em seguida foi a mesma cantilena com a Faria Lima, depois para Av. Berrini... -e agora já nem sei qual é a bola da vez-, para depois comprarem a região central a preço de banana e a relançarem como chique-retrô o que já está acontecendo.  Uma pena que o Mendes da Rocha não viveu para ver sua profecia se cumprindo.

Agora, não bastasse aquela feiura das Casas Bahia em frente ao Teatro Municipal, onde era o Mappin, acabo de ler no jornal que a ex-majestosa Livraria Cultura do conjunto Nacional na Av. Paulista em breve será uma lojona do Magazine Luiza. 

Fico já imaginando aquele monte de lavadora e geladeira invadindo a calçada com aquelas cartolinas de liquidação e umas caixas de som daquelas grandonas anunciando as promoções ao som do pancadão...


sexta-feira, 19 de abril de 2024

BANCADA LAVAJATISTA DA GLOBONEWS ATACA A JORNALISTA DANIELA LIMA AO VIVO.

A chapa esquentou na Globonews com o Gabeira e Leilane enquadrando ao vivo a recém-chegada Daniela Lima que ainda não sacou que funcionários globais, só podem beber na tigela da casa. Se arriscar fora da casinha não vai levar lapada dos donos não, porque os zelosos colegas, se antecipam aos patrões e já  passam uma descompostura ao vivo mesmo numa sem-cerimônia constrangedora.

As “pratas da casa” parecem que estavam incomodadas com o protagonismo da  excelente Dani Lima, porque ela apenas foi profissional em dar ênfase ao fato que foi Thompson Flores que barrou um Habeas Corpus do Lula. Afinal, alguém de fora do círculo jurídico conhece Thompson Flores? Isso se chama trazer ao público a informação correta e contextualizada. Nada mais.

Se tem alguém que ainda me faz assistir a Globonews e suportar a subserviência da Globo ao “mercado” e a tolerância com a direita tacanha, é a DANIELA LIMA!

E convenhamos que Leilane pedir isenção e prudência é no mínimo hilário, hein!?




 

segunda-feira, 8 de abril de 2024

O Ataque de Elon Musk

Com a derrocada do twitter (agora X) desde que Musk adquiriu a plataforma, a solução encontrada pelo empresário foi pegar uma carona no movimento das hostes boçalnaristas contra o STF e ao mesmo tempo tentar se livrar de investimentos para moderar as postagens criminosas, de fascistas, pedófilos, boçalnaristas et caterva. 


Risco calculado, se colar colou, se não colar e o X for suspenso no Brasil, avalia que ficaria bem na foto com a imagem de grande empresário da liberdade, que teria deixado o Brasil devido a censura e ainda aplaudido pelas hostes bolsomínions, e sem investir um centavo por aqui na moderação de conteúdo, já que o “X” apesar do número de usuários, não fatura nem uma fração do que a Meta (Instagram, facebook, WhatsApp) e Google, que também investem muito pouco em moderação de conteúdo ainda.

Prova disso é que o Prof. Fábio Malini do LABOIC (Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da UFES), apurou que as contas que mais repercutiram as falas de Musk neste final de semana são justamente as que sofreram s moderações e suspensões do STF por publicarem conteúdos criminosos e/ou falsos.

Na visão de Malini, o movimento de Musk, "É muito mais uma tentativa de preservação da empresa se utilizando oportunamente dos aliados na cena pública que estão em campanha contra o ministro Alexandre de Moraes, tentando colar o argumento de que Elon Musk é um grande empresário que deixou o Brasil por causa da censura do STF e não se rendeu”.

Fato é que o Brasil, um país de dimensões continental, não é terra de ninguém e precisa regulamentar a internet como já estão fazendo as grandes Democracias europeias por exemplo.



domingo, 28 de janeiro de 2024

Joga sopa na Monalisa

 Melhor do que apenas jogar sopa em obras de arte talvez fosse focar também ou principalmente em ideias como planejamento familiar etc.…, porque segundo os especialistas, alimentar 8 bilhões de pessoas com agricultura primitiva, natural, saudável, sustentável, orgânica, livre de venenos contra pragas, etc, etc, tornou-se impossível há décadas. É uma conta que não fecha, enfim.

Explicam que um pé de tomate primitivo, orgânico, por exemplo, leva quase 6 meses para produzir 3 frutinhas menores que um ovo, consome mão de obra e cuidados infindos, enquanto que seus primos “malvadões” que comemos todos os dias, que são variedades melhoradas geneticamente, exponencialmente mais produtivas, resistentes a intempéries, insetos... e que tomam banhos químicos contra pragas, etc, etc..., em três meses produzem 50 tomates grandes que ainda sim custam R$12,00 o kilo.

Jogar sopa na Monalisa ganha manchetes e likes, mas o que vai resolver mesmo a questão, será enfrentar todos os outros componentes da equação (8 bilhões de bocas x comida "natural") e que pelo jeito não suscita paixões, além do que na hora da "onça beber água", ficaria complicado todos correndo atrás de conseguir 2 cenourinhas do tamanho de um polegar por 20,00 nas feirinhas alternativas para poucos... Então a questão é complexa e envolve muitos fatores.

Enquanto a questão não é enfrentada levando em conta vários aspectos, quem paga o pato é a coitada da Monalisa que nunca refletiu sobre as contradições humanas, Thomas Malthus, protecionismo, permacultura...

A velha estória; A pessoa vai de carro para o boteco falar contra os automóveis e a poluição, mas recusa-se a usar o metrô, quando na verdade os problemas reais quase sempre envolvem muito mais coisas do que o bla,bla,bla, ou atirar sopa num quadro que também tem sua importância, mas não adianta ficar só nisso, porque o buraco parece ser bem mais embaixo.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Freud no Oriente Médio: entre a vítima e o agressor

por Daniel Kupermann


O sequestro dos espíritos

Demorei exatos 79 dias, 17 horas e 36 minutos, considerando o horário em que o mundo se deu conta do que estava ocorrendo, para decidir publicar algumas considerações sobre o atentado atroz perpetrado pelo grupo terrorista Hamas no dia 07/10/23 em solo israelense e sobre a resposta militar devastadora de Israel e sobre mais uma guerra no Oriente Médio.
O massacre cometido por homens do Hamas me emudeceu. Mil e trezentas pessoas assassinadas em algumas horas, sem distinção de idade, gênero e mesmo nacionalidade. Bebês, mulheres torturadas, estupradas e mortas, idosos profanados e, por fim, o sequestro de mais de duzentas pessoas, novamente de todas as idades.

As manifestações imediatas de amigos e companheiros da esquerda brasileira me emudeceu. Os cadáveres ainda não tinham sequer esfriado e a insensibilidade em relação à infâmia ocorrida era exibida nas redes sociais, assim como a justificativa mais ou menos explícita dos atos hediondos reivindicados pelo Hamas.

A reação militar israelense adotando a estratégia da “terra arrasada” me emudeceu. Não foi surpresa a invasão de Gaza em busca dos reféns sequestrados e do propagado objetivo de destruição do poderio militar do Hamas, mas tornou-se insuportável para mim a repetição das cenas de destruição de cidades, de remoção de populações inteiras e de mortes de civis – crianças em especial – promovidas pelas forças militares subordinadas a Netanyahu.

Minha mudez, acompanhada de uma aura depressiva, permitiu-me, no entanto, testemunhar um fenômeno psicológico que chamarei de sequestro dos espíritos, nomeando de “espírito” a capacidade humana de pensar empaticamente, ou seja, pensar a partir do modo como o sofrimento – nosso e do outro – nos afeta. Não me refiro, evidentemente, a uma empatia seletiva, como critica Butler com razão, mas a uma empatia universal.

O sequestro dos espíritos, fenômeno bastante atual, por sinal, não apenas abole nossa capacidade de pensar empaticamente; ele recrudesce nossas paixões narcísicas. Com o espírito sequestrado nossa visão é limitada por antolhos ideológicos e nosso pensamento abarca uma dimensão não maior que um umbigo, o próprio umbigo ou o umbigo do grupo ao qual pertencemos. Só assim é possível não se comover com os relatos e as cenas de 07/10 em Israel e dos dias subsequentes em Gaza. Essa é a condição subjetiva para que a cultura do ódio floresça, como vem acontecendo no Ocidente.

Jovens universitários em busca de aplausos gritando “morte aos judeus”. Políticos de esquerda vociferando contra a existência do Estado de Israel. Judeus sedentos de vingança apoiando a destruição total de Gaza. Políticos de direita capitalizando a situação a seu favor.

Diz o provérbio bíblico que “quando se semeia o ódio, colhe-se a tempestade”. E no deserto do Negev e em seus arredores as colheitas têm sido tempestuosas. Lá, de um lado e do outro, só se planta ódio.

Ao pensar nisso, emudeço novamente.

Os destinos da identificação com o agressor

O fenômeno da “identificação com o agressor”, descrito pelo psicanalista Sándor Ferenczi (1873 – 1933) nos auxilia a entender o que nomeei de sequestro dos espíritos. Trata-se de um mecanismo psíquico de defesa por meio do qual, frente à uma violação física ou moral traumática, a vítima, ou o grupo vilipendiado, desenvolvem um vínculo afetivo com seu(s) agressor(es). A violência extrema nos faz regredir, e regredidos somos como crianças vulneráveis; amamos aqueles dos quais nossas vidas dependem, ainda que sejam nossos sequestradores, como no caso mais conhecido da Síndrome de Estocolmo.

Porém, outra forma de vínculo afetivo possível, ainda mais aprisionante que o amor submisso, é o ódio destruidor, por meio do qual nos tornamos iguais àqueles que nos subjugaram. O ódio destruidor fomenta fantasias e atos de vingança. Desde o sujeito que sofreu maus tratos e se torna delinquente, do abusado sexualmente que se torna estuprador, até os casos, tão bem retratados nos filmes da máfia italiana, nos quais famílias concorrentes não cessam de se exterminar mutuamente.

Dada essa breve explanação, creio que o terrorismo e a violência militarista têm, ambos, o dom de sequestrar nossos espíritos e de mobilizar nossas piores paixões, com destaque para o ódio destruidor. Frente ao horror provocado pela ideia dos atos hediondos terroristas e da impiedosa resposta militarista, nosso pensamento se paralisa, e a primeira reação é a paixão vingativa. “Seres tão vis, capazes de tamanhas atrocidades, merecem morrer, de preferência com requintes de crueldade”. Algo tão antigo como a ética bíblica do olho por olho, dente por dente, se apodera dos nossos espíritos e nos torna juízes implacáveis, quando não assassinos em potencial.

Por outro lado, uma vez que o ódio destruidor provoca imenso desprazer naquele que o experimenta, sua contraface previsível é o desmentido, que busca minimizar o horror do qual fomos testemunhas. “Não, não é possível que seres humanos possam fazer isso com bebês, mulheres ou idosos; só pode ser fake news”. Ou então “eles não têm outra alternativa”.
Desse modo, a violência em estado bruto nos torna incrédulos negacionistas, ou vingadores sanguinários movidos pela paixão punitiva. Ambos recusam parte da realidade, pensam de modo maniqueísta, simplificam os problemas de modo a encontrar a solução mais fácil: o extermínio do inimigo.

O conflito Israel-Palestina é de enorme complexidade, com nuances históricas, religiosas, geopolíticas, econômicas. Portanto, qualquer tentativa de entendimento exige o exercício pleno do pensamento empático. No campo político, apenas o reconhecimento mútuo das perdas e dos danos sofridos, bem como dos lutos necessários a cada um dos povos, permitiria a retomada das negociações em direção à solução – que hoje parece tão longínqua – dos dois Estados convivendo pacificamente. Não necessariamente em harmonia, como dizia o escritor Amós Oz, integrante do movimento de esquerda israelense “paz agora” (“shalom achshav”), mas pacificamente.

A questão é que, aparentemente, nossos espíritos foram sequestrados em 07/10, e não conseguimos mais pensar fora da lógica binária da identificação com o agressor, ou com a vítima, outra face da mesma moeda, já que exige vingança. Alguns odeiam o terrorismo, o Hamas e, por extensão, o povo palestino. Outros odeiam o Estado de Israel, sua força militar, sua aliança duradoura com os Estados Unidos e, por extensão, todos os judeus. O mal está sempre do outro lado, a nos espreitar. E com os espíritos sequestrados, tudo é permitido, tudo é justificável. Do estupro seguido de tortura e morte ao bombardeio de áreas densamente povoadas, dos gritos de “morte aos judeus” à islamofobia propagada à boca pequena. E quando tudo é permitido, o equilíbrio exigido para qualquer negociação de paz torna-se impossível.

Sobre uma carta de Freud

A guerra mal tinha iniciado e já circulava nos meios psicanalíticos uma carta de Freud endereçada ao militante sionista Chaim Koffler. Na missiva Freud, judeu austríaco, confessava pouco entusiasmo com o projeto de criação de um Estado para os judeus e, menos ainda, com a possibilidade de os islâmicos aceitarem que alguns de seus lugares santos fossem confiados à sua guarda. Muniz Sodré, que sempre mereceu minha admiração, publicou uma coluna no jornal O Globo (28/10/23) citando a carta para criticar o que nomeia de “lógica colonial” que inspirou a criação do Estado de Israel, usando do nome de Freud para sugerir que o pai da psicanálise pressentiu que o projeto “daria errado”.

Ora, a carta de Freud é de 1930. Oito anos depois Freud deixava Viena em direção a Londres – graças a uma negociação empreendida junto aos nazistas pela princesa Marie Bonaparte – para escapar da morte nos campos de concentração, destino de seus familiares próximos. Não sabemos o que Freud teria escrito a Koffler logo antes de morrer ou, se ainda estivesse vivo, após a guerra. Afinal, se o seu receio era o de que a imigração dos judeus – fugindo do antissemitismo prevalente na Europa – para o Oriente Médio “desse errado”, depois de Auschwitz o mínimo que se pode pensar é que pior seria impossível. Me espanta é que nenhum dos colegas que citou a referida carta considerou importante analisar seriamente o contexto na qual foi escrita, e aquele que a sucedeu.

O fato é que a opinião de Freud anterior às atrocidades nazistas pouco nos ajuda a pensar o conflito Israel-Palestina hoje, como pouco ajudaria saber se ele mudara de ideia depois de se tornar refugiado dos avanços de Hitler. No atual estado de violência e de guerra que tomou a região, melhor seria trocar os argumentos de autoridade e os fundamentos ideológicos e teológicos pelos princípios éticos e, sobretudo, pelo bastante freudiano “princípio de realidade”.

Ou seja, a pergunta a quem pertence a estreita faixa de terra que vai do rio Jordão ao mediterrâneo não pode ser respondida simplesmente com apoio na pergunta “quem estava ali antes”. A imigração judaica moderna à região teve início no século 19, como resposta ao que os europeus chamavam de a “questão judaica”. E em 1947 o Estado de Israel foi reconhecido pela ONU, ainda sob impacto do genocídio perpetrado durante a Segunda Guerra Mundial. A realidade de hoje é que há cerca de nove milhões de israelenses e cinco milhões de palestinos, somando os habitantes de Gaza, dominada pelo grupo terrorista Hamas, e da Cisjordânia, sob o governo da Autoridade Palestina, e qualquer solução que não reconheça esse fato inexorável implicaria exterminar um dos povos.

E apenas espíritos sequestrados podem ter simpatia por essa ideia macabra.

A solução dos dois Estados

Nos anos 1970/1980 comprava-se nas ruas de Jerusalém camisetas e moletons com o slogan “Israel is real”. Havia, na época, apesar dos conflitos já existentes com os vizinhos árabes, um clima de relativo otimismo no Ocidente devido à emergência de um país democrático no Oriente Médio, bem como aos avanços tecnológicos que permitiram aos kibutzim – comunidades agrícolas, na maioria socialistas – fertilizar uma terra desértica.

Atualmente, em função de décadas de sofrimento do povo palestino, assistimos a questionamentos acerca da legitimidade do Estado de Israel, como se fosse possível apagar a história da imigração judaica e os seus 75 anos de existência. Ideologias à parte, os fatos existem. A única solução eticamente aceitável para o conflito israelense-palestino é a criação de um Estado Palestino soberano, ao lado do Estado de Israel.

A pergunta a ser feita, então, é: que representantes do povo palestino e do Estado de Israel seriam os mais aptos para viabilizar o cultivo da vida no Oriente Médio. O cultivo da morte, sabemos, é mérito do Hamas e de outros grupos terroristas, bem como do governo de extrema direita de Netanyahu, que insiste em manter assentamentos judaicos na Cisjordânia e os habitantes de Gaza em uma condição existencial indigna.

Recusar a existência do outro, diferente de nós mesmos, assim como negar a realidade que a nós se impõe, é um mecanismo psíquico que atende a fantasias de onipotência delirantes e perigosas, muito perigosas. E as práticas negacionistas, bem como o ódio destruidor, prosperam nas várias formas de fanatismo e fundamentalismo próprias dos messianismos que orientam o terrorismo islâmico, bem como o projeto chauvinista da “Grande Israel”.

Daniel Kupermann é psicanalista, professor livre-docente do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, presidente do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi e pesquisador bolsista do CNPq

Publicado originalmente na Revista Cult

domingo, 24 de dezembro de 2023

Digressões natalinas, ano novo...

Desejo a todos um Natal e ano novo feliz (ainda que desconfie que a intersecção entre as duas coisas –Natal/ano novo e felicidade - seja um conjunto vazio). Que seja ao menos ameno, com mais afeto que discórdias, porque as relações humanas -amigos, família, etc-, são ao mesmo tempo tão essenciais quanto difíceis, sabemos.

O mundo em geral está uma merda triste, como se sabe, mas o Brasil pelo menos conseguiu este ano, tirar a cabeça pra fora dela, no entanto não há muita coisa séria a ser celebrada para além do óbvio.

Pelo menos agora o país tem um presidente e um governo funcional, contudo no que me diz respeito, o sentimento é mais de alívio do que de esperança. Mas é preciso tê-la, e/ou alimentá-la em algum canto do espírito, para dar algum sentido ao dia a dia e seguir tocando em frente.



terça-feira, 5 de dezembro de 2023

O FUTURO NÃO É MAIS COMO ERA ANTIGAMENTE... ♫ ♪ ♬ 🎼

Será que quando o Renato Russo escreveu esta frase ele já antevia os tempos atuais, ou a aceleração da fase mais tecnológica da humanidade já se fazia sentir? Foi mais ou menos nessa época que apareceram o Cd´s, Dvd´s, e os vinis começaram a agonizar... e pouco tempo depois surgiria a internet.

Semana passada em Brasília, eu dormi com fome e com raiva após sair de um Show no estádio Mané Garrincha porque eu não consegui encontrar nada aberto.... Nem bar, boteco, bodega, quiosque, churrasquinho de gato, restaurante... NADA e então me senti meio idiota, ultrapassado, tiozão e faminto!?.


Injuriado, perguntei a um motorista-Uber onde poderia comer qualquer coisa e ele me disse que a única coisa aberta naquela hora seria o Restaurante Coco-Bambu -que aliás pertence a um apoiador da plataforma boçalnarista diga-se-, numa região nobre lá nos quintos dos infernos. 

Revoltado eu disse; não é possível que não exista alguma birosca nessa cidade grande e capital do país e ele disse que esse tipo de comércio aberto àquela hora, só existia no mundo real na periferia, onde tem uns pagodes e tal que seria nas cidades satélites, mas como eu não iria viajar 30 km, só para comer um misto quente, voltei para o hotel resignado a mastigar uma barra de cereal e dormir, mas chegando lá, notei que havia dezenas de pessoas de todo lugar do norte e centro-oeste do país igualmente recém saídos do Show e com o mesmo problema ali no saguão do hotel, mas todos após ouvir a recepcionista, simples e naturalmente sacavam seus celulares e rapidamente as mais variadas comidas se materializavam, trazidas por escravos modernos também chamados "empreendedores", ofegantes e exaustos em suas bicicletas financiadas.

Eu sempre fui contra esses aplicativos porque acho uma maldade aqueles milhares de ciclistas entregando comida que eles mesmos jamais comerão bla, bla, bla... 

Ao mesmo tempo em que estava faminto, eu também não queria apenas comer  solitariamente num quarto de hotel, comida de caixinha e talheres de plástico. Eu queria sentar e comer e tomar uma cerveja numa mesa compartilhando aqueles momentos do show, comer, celebrar..., mas isso é coisa de gente antiga, como eu viria a descobrir nos minutos seguintes vendo as novas gerações comendo naturalmente, enquanto apertam mil botões e olhos fixos nas telas onde a vida agora acontece...

Também, como moro no centro de São Paulo há muitos anos e no mesmo prédio que moro tem uma adega 24hs, na esquina tem um bar/restaurante igualmente 24 horas, além de outras dezenas de lanchonetes 24hs, num raio de 500 metros, eu sempre pude boicotar alegremente esses aplicativos, e acabei esquecendo de que, nem sempre todas as ocasiões da vida se dão em ambiente controlado como quando viajamos, por exemplo...

Foi então que ali naquela hora, senti na pele o quanto a minha recusa etariana (e inconsciente?) em admitir o “futuro” e as inovações tecnológicas é uma coisa estúpida, infrutífera e irracional!  A resistência ao novo e à velocidade que as mudanças estão trazendo, simplesmente nos atropela, e pensar que podemos contornar essa avalanche é o auto-engano mais comum, imbecil e caro para muitos da minha geração e virtualmente para mim mesmo que nem sou tão tecnofóbico assim, mas vez por outra, sou atrasado na interpretação da realidade e na adesão às novidades que muitas vezes nem são tão novidades mais (risos!). A sorte é que convivo com muitas pessoas da geração digital  e tenho ocasionalmente chances de observar o modus vivendi deles. Não fosse por isso, eu estaria ainda pior, ou como diria minha sobrinha correndo nas savanas atrás de um Cervo.

Essa resistência às velozes mudanças tecnológicas segundo pesquisa datafolha, atinge especialmente os nascidos antes de 1980 e então lembrei que no início do século XX quando começaram a surgir os automóveis em grande escala, os charreteiros, partiram para cima dos carros e foi o maior quebra pau em vários lugares mundo a fora, inclusive na estação da luz, que era a porta de chegada e saída de São Paulo. Ironicamente algumas décadas mais tarde quando apareceu o Uber foi a mesma coisa com os taxistas quando aconteceram novas escaramuças e antes, quando surgiu a Tevê, diziam que aquela caixinha ridícula, nunca desbancaria o rádio que a todos encantava. Quando apareceu o WhatsApp as empresas de telefonia se insurgiram contra, numa tentativa de manter o monopólio, salvar o telefone fixo, mas de nada adiantou também.
Como se sabe o futuro se impôs rápido e esmagadoramente em todos os casos.

Agora mesmo, em grandes cidades pelo mundo afora, os carros de aplicativos já não tem mais motoristas, a comida é entregue por drones, assim como sangue para transfusão, órgãos para transplante e, até um singelo pote de sorvete para a larica, cruza os céus até seu destino conforme comandos cibernéticos que os Apps determinam. Atualmente, um cirurgião cardíaco da universidade de Colúmbia-USA, já opera pacientes em um hospital moderno em São Paulo por meio de um aplicativo robótico 5G, ao mesmo tempo em que ainda há pessoas -como eu-, achando que podem resistir às inovações, quando na verdade seremos tão somente e prosaicamente atropeladas pelas inovações porque o futuro não é mais mesmo como era antigamente.

Simplesmente não dá mais para viajar, se divertir, embarcar no avião, sem o Qr code no celular, ver a previsão do tempo, tomar trem, ônibus, comprar passagem, ver o roteiro seguro na viagem, olhar o cardápio no bar ou restaurante etc e etc..., .  Não se consegue nem entrar num show ou marcar uma consulta médica sem um decente e onipresente celular. NADA!

Claro que as corporações ainda mantém um diminuto grupo de atendentes telefônicos para resolver a vida das pessoas tecnofóbicas, e/ou idosas e resistentes a compreender o futuro e a velocidade das inovações, mas cada dia está se tornando mais difícil com a implantação dos atendentes robotizados e em pouco tempo esse suporte telefônico desaparecerá de vez e aí de quem não tiver um sobrinho(a) ou neto(a) para socorrer.

Enfim, são tantas coisas que são lógicas e naturalmente incorporadas pelas gerações digitais e tão doloridas para a minha, (analógica), que a lista está ficando cada vez mais longa e quanto mais resistimos mais complicado fica.

Durante a pandemia por exemplo, me senti um fóssil vivo ao saber que eu era o único habitante do planeta que ainda não tinha um “dongle,”  e ainda não tenho, mas juro que vou me presentear com um Fire Stick neste natal. Acho que foi durante o confinamento que fiquei sabendo dos dispositivos “dongle” vendo uma live da Paula Lavigne conversando com Caetano veloso que é 20 anos mais velho que eu, mas é atualizadíssimo pelo jeito e comentando com amigos, fiquei com a sensação de que quase todos já tinham, menos eu.

Também ainda não assino muitas plataformas de streaming etc rs... Sou resistência e procuro outros caminhos, mas já começo a ser olhado como tiozão-teimoso pelas gerações digitais e, sei que em algum momento próximo será inevitável aderir, se quiser continuar vendo filmes que desejo ver, pois está virando um serviço básico como conta de luz, agua... Além disso -pasmem-, mas ainda não tenho Kindle e sim, ainda leio livros de papel.

Algum tempo atrás, um amigo querido que mora no interior veio me visitar e no dia de ir embora para o aeroporto de madrugada, levantei fiz um café e ele pediu para eu chamar um taxi e achei que ele estivesse brincando, mas não, era verdade mesmo. Preocupado, sugeri que o melhor a fazer àquela hora era chamar um carro de aplicativo porque eu não fazia ideia de onde poderia haver um taxi, ao que ele respondeu com certo orgulho que não tinha “esses aplicativos” e então tive que chamar e consequentemente pagar um Uber para ele emergencialmente, para evitar que perdesse o voo, sem falar que ele também não tinha o QR code de embarque no celular e tive que imprimir o dinossáurico cartão de embarque em papel para ele na noite anterior, porque ele tinha perdido o que o filho havia impresso e entregue a ele.

Na visita do ano seguinte, ele veio de carro e reclamou que ficou horas num congestionamento na zona oeste porque estavam recapeando as vias principais da região e ele também não tinha Apps de trânsito e se lascou todinho.
Da mesma forma, assim como ele, eu também não estava habilitado para o futuro na noite trágica e famélica em Brasília após o show do Paul MacCartney em que recusei baixar o Ifood e saí procurando um “lugar” até aprender que brigar com o futuro é uma burrice sem fim.

Assim, toda vez que algum humano for visto por aí falando que precisa ir ao banco ou perguntando como se chega em determinado endereço ou que condução ele deve pegar para ir para tal lugar... pode ter certeza de que se trata de um viajante temporal que veio da idade média, ou um resistente atemporal combatendo contra o futuro, tal a infinidade de aplicativos de navegação gratuitos e usados largamente que informam até a hora que o ônibus chegará ao ponto, etc.

Um outro vacilo do tipo resistência etária e estúpida às inovações foi não ter migrado os cartões e documentos para o Celular, pois recentemente, meu cartão foi clonado por uma maquininha onde fiz algum pagamento, e sacaram 500,00 da minha conta e só não rasparam tudo, porque tenho um limite de saque na madrugada.  Se eu não fosse tão lento e jurássico, e já estivesse usando a função NFC do Celular nada disso teria acontecido porque o acesso depende do face Id e toda vez que for usar ou pagar alguma coisa ele gera um novo número virtual que só vale para uma transação e assim fica impossível fraudar e desta forma também fica sendo desnecessário carregar carteira com cartões e documentos, etc.… porque está  tudo no aplicativo carteira.


Por algum tempo ainda haverá empresas fabricando coisas extemporâneas como o tal celular minimalista -que não serve pra nada-, para idosos/resistentes  e também para os tecnofóbicos, com aquela a conversa mole pra boi dormir de que os aplicativos estão enlouquecendo as pessoas, mas é só oportunismo  mercadológico e para faturar e vender um produto natimorto para os membros da resistência (ao futuro), assim como os devotos do radio que eram contra a tevê, que era associada a satanás, pois há ainda muito mercado para a tecnofobia que está em alta em alguns segmentos, como aquele povo que não entendeu até hoje que os mensageiros instantâneos (tipo o whatsApp), substituiu as antigas ligações telefônicas, e demoram uma vida inteira para responder e agora celebram o celular minimalista nas conversa de botequim, mas muitas vezes tem um aparelho de ultima geração no bolso para falar com o(a) amante. 

Claro que sempre teremos a opção do isolamento/alienação completa, mas é coisa radical e para poucos. Por ora, o certo é que viver com um pé na era digital e outro nas cavernas de Guadix, esta ficando cada dia mais difíci.

Como o poeta Belchior antecipou na canção “como nossos pais”, o novo sempre vem♬...  

Então, o fato do “futuro” ainda não ter chegado e/ou e nos atropelado onde quer que a gente viva, não significa que será possível driblá-lo por muito mais tempo. No máximo se poderá adiar o choque que sobrevirá inevitavelmente em situação e lugares inesperados, como ficar em engarrafamentos, levar multas, dormir com fome, não encontrar o ônibus certo, passagem aérea barata, ou então incomodar as novas gerações para resolver as coisas simples como , olhar o cardápio no bar, tirar documentos, passaporte, etc, porque agora "o futuro não é mais (tão lento) como era antigamente".


E.T:  depois que escrevi isso, já baixei o Ifood, o ViajaNet, ja ativei o NFC no Celular e adquiri um Fire Stick. Ufa!  Logo, logo eu chego no Kindle.



segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Milei e a erosão da democracia.

A única explicação para eleição do Milei, é o vício de origem da democracia que pressupõe que os partícipes são razoavelmente informados e compreendem minimamente a funcionalidade do sistema em que vivem.

Só que não

A extrema-direita sacou isso e vem apostando todas as fichas na desinformação como arma estratégica, porque percebeu que a maior parte das pessoas tem muita preguiça de se informar e baixíssima capacidade de escrutínio crítico sobre os conteúdos que acessa ou recebe.

Segundo o cientista político e professor de Estratégia, Economia, Ética e Políticas Públicas da McDonough School of Business da Universidade de Georgetown, Jason Brennana democracia não funciona mais adequadamente porque as pessoas passaram a construir suas opiniões na era da internet, baseadas em informações de baixa qualidade ou falsas.

Enquanto os progressistas batem cabeça para encontrar saídas, a direita não hesita e dissemina fake news e/ou artigos disfarçados de jornalismo sério, gratuito e ao mesmo tempo, trata de difamar o jornalismo profissional, instituições públicas e a política, como forma de solapar a democracia sub-repticiamente e instaurar o autoritarismo.

Milei, um desequilibrado que nunca administrou nem um carrinho de cachorro quente, diz que se aconselha com o espírito do seu cão de estimação falecido, enaltece a sangrenta ditadura argentina, é a favor da comercialização de orgãos, quer o fim da educação pública, da saúde pública, do Banco Central, da moeda nacional e que a Argentina rompa com o Mercosul.

Claro que nada disso é fácil de realizar (senão impossível) considerando que ele não tem maioria no Parlamento e na argentina não existe “centrão” para mercadejar apoios.

Enfim, a derrocada da democracia no mundo todo preocupa e não deixa de ser assustador o nível de alienação da realidade factual, a que os cidadãos se entregaram, na era pós-internet.

Embora abundem informações, tornou-se muito mais complexo e trabalhoso separar o joio do trigo e interpretar a realidade em separado do desejo e convicções religiosas e a extrema direita entendeu isso mais rápido do que os demais “players’ quando elegeu Trump e Bolsonaro.

 


segunda-feira, 9 de outubro de 2023

O Conflito Israelo-Palestino e a simplificação Mocinho x Bandido.

O evangelicalismo de conveniência e a asnice, correram às redes para jorrar ignorância, má fé e estupidez sobre o conflito israelo-palestino, com o expediente batido de intepretação des-contextualizada do velho testamento para justificar o terrorismo praticado pelos israelenses há décadas contra o povo palestino.

Não se trata de defender nenhum dos lados nesse horror, mas um mínimo de atenção aos fatos históricos, e senso do ridículo cairia bem.

O show de desconhecimento histórico e ranço religioso começou com o famoso pastor André Valadão da Igreja Batista da Lagoinha, citado pela imprensa em vários escândalos e bolsonarista de carteirinha, referindo-se ao Livro de Josué e a forçada interpretação sob medida e descontextualizada para afirmar que a terra onde os palestinos vivem há milhares de anos, pertencem ao “povo de Deus”, seja lá o que isso quer dizer e que deus seria esse.

Na sequência, outra radical, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), conhecida prócer do evangelicalismo nacional, se disse "em lágrimas", pediu paz e declarou: "Ó, Israel, como te amo!"

Bem, para quem não é muito familiarizado com a crença evangélica, pode a princípio parecer um contrassenso esse respaldo sem limites a uma religião e a um povo que sequer crê no ponto central do cristianismo, que é aceitar Jesus Cristo como seu messias, mas sigamos.

Segundo artigo da Anna Virginia Balloussier na folha de São Paulo, “a bem da verdade, por muitos séculos, protestantes —precursores do pentecostalismo que hoje domina essa parcela cristã no Brasil— não deram muita bola para Jerusalém. A cidade disputada por palestinos e israelenses tinha mais capital simbólico para judeus, católicos e muçulmanos, como lembrou o pastor Valdinei Ferreira, líder da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo.

O que mudou então? A partir do século 20, começaram a popularização das teologias que passaram a interpretar de modo convenientemente literal as profecias bíblicas que envolvem o Apocalipse e a volta de Jesus.

Fatos modernos, como a criação do Estado de Israel, em 1948, após o empenho nazista em exterminar a comunidade judaica, são lidos a partir dessa lente profética. Grupos evangélicos acreditam no retorno de Jesus à Terra para comandar o Juízo Final. E as profecias apontariam que o renascimento de Israel, ou seja, o Estado que surge após o Holocausto, seria contemporâneo a uma nova vinda do filho de Deus.

Claro que o projeto de salvação implicaria na conversão de judeus ao cristianismo, mas esses, não dão a mínima para o cristianismo, mas isso é só um detalhe.

O livro de Apocalipse fala ainda dos "144 mil selados de todas as tribos de Israel", que contemplariam os verdadeiros adoradores de Deus, com vaga garantida no céu. "Mas cremos que judeus podem ser salvos o tempo todo", diz o apóstolo Estevam Hernandes, fundador da Renascer em Cristo, igreja que adota artefatos judaicos como a mezuzá. Bastaria ceder neste caso, ao que cristãos entendem como verdadeiro Senhor.

A ênfase no simbolismo judaico não se restringe à Renascer. A Igreja Universal do Reino de Deus chegou a erguer sua própria réplica do Templo de Salomão, do filho de Davi, o maior rei de Israel, com Bate-Seba, conforme a narrativa bíblica. A inauguração, em 2014, contou com o bispo Edir Macedo em trajes típicos do rabinato: quipá, talit (o xale de orações) e uma farta barba branca, tal qual um profeta.

No mesmo ano, em entrevista à Federação Israelita do Rio de Janeiro, o pastor Silas Malafaia deu seu pitaco: "Para nós, o Deus de Israel é o nosso Deus. Não tem nenhuma absolutíssima diferença".

Nos últimos anos, a defesa evangélica a Israel ganhou contornos políticos mais salientes, com pressões para a mudança da embaixada dos países de Tel Aviv para Jerusalém. Em 2017, o então presidente dos EUA, Donald Trump, assim determinou, e o embaixador americano até hoje fica em Jerusalém, assim como o de um punhado de nações de menor expressão, como Guatemala e Honduras. Bolsonaro bem que tentou seguir os passos de Trump, mas o plano não foi adiante no Brasil.

Tamanho é o apelo de Israel entre evangélicos que pululam agências de viagem com pacotes específicos para esse turista cristão, da Caravana Selados com Espírito de Deus ao Cruzeiro Gospel.”

Outro artigo interessante sobre o tema é o do Prof. Da UNB Luis Felipe Miguel onde explica:

“É difícil simpatizar com o Hamas – um movimento de caráter fundamentalista, que afirma que “o Corão é a nossa constituição”.

E o terrorismo, fazendo vítimas civis indiscriminadamente, é sempre repugnante. O sofrimento que causa não pode ser ignorado.

Mas não é possível não tomar lado a favor dos palestinos, vítimas há décadas da agressão israelense.

Israel é um Estado terrorista. O que pratica contra o povo palestino tem nome: genocídio.

A fundação do Estado de Israel, em 1948, passou pela expulsão de 750 mil palestinos de suas terras – nas palavras do historiador Ilan Pappé, um israelense crítico de seu país, um processo de “limpeza étnica”, para retirar os indesejados de seus territórios.

Desde então, a história é de anexação de territórios e muita violência. A Faixa de Gaza é um grande campo de concentração – Israel mantém um severo bloqueio contra o território, impedindo o trânsito de pessoas e de produtos. Faltam suprimentos, falta energia elétrica, falta água. Ataques “preventivos” ou “retaliativos” contra civis são frequentes.

É fácil condenar a violência do Hamas. As imagens são mesmo chocantes.

Mas a causa é a violência do opressor – isto é, de Israel.

Os palestinos lutam desesperadamente para romper a pasmaceira da comunidade internacional e chamar a atenção sobre sua situação. (E talvez não custe lembrar que o Hamas era um grupo irrelevante até que Israel decidiu financiá-lo, com o objetivo de enfraquecer a esquerda laica e criar discórdia entre os palestinos.)

Quando a indignação é seletiva, como na imprensa que recrimina o terrorismo do Hamas mas não é capaz de definir o Estado de Israel com os adjetivos certos (terrorista, racista, genocida), parece que aos palestinos não cabe outra alternativa que aceitar passivamente tudo o que sofrem.

Na primeira metade do século passado, a condenação ao nazismo e a solidariedade com suas vítimas formavam um imperativo moral absoluto, com o qual não era possível tergiversar.

Hoje, o repúdio ao expansionismo de Israel e a defesa da liberdade, da dignidade e da autonomia da Palestina traçam uma linha divisória que separa quem de fato defende os direitos humanos de quem transaciona com eles.

Que a ofensiva palestina iniciada anteontem sacuda a consciência do mundo e contribua para frear a truculência israelense – único caminho possível para a construção da paz.”

Apesar do esforço da mídia ocidental “cristã” padecer do viés pró- Israel, tornou-se impossível, esconder que o terrorismo de estado praticado contra o povo palestino e que transformou a faixa de Gaza, no maior campo de concentração a céu aberto do mundo.

Nos últimos anos, Israel bombardeou instalações de tratamento de água, centrais elétricas, hospitais e escolas de Gaza, fechou as suas fronteiras e portos, proibiu a operação de um aeroporto e destruiu pelo menos um terço das terras agrícolas dos  palestinos desde 2000, quando autorizou assentamentos israelenses ilegais em territórios Palestinos.

O ataque terrorista do Hamás é apenas uma centelha de reação ao terrorismo israelense, que é legitimado e escamoteado por muitos interesses diversificados, e que  parecem aceitáveis-edulcorados pela afinidade cultural. Afinal de contas, a civilização israelense é "coisa nossa", moderna, pop, contemporânea, limpinha e cheirosa e oposta à barbárie árabe-muçulmana medieval e cozida na religiosidade opressora, dos direitos individuais, das mulheres etc, etc.

Fato é que enquanto não houver negociação e instituição de dois estados com reconhecimento internacional, o morticínio de lado a lado nunca terá fim.



quarta-feira, 7 de junho de 2023

Os sons...

De uns tempos pra cá, quando vou para o litoral ou para o interior, ou até mesmo em casa, as vezes evito ligar aparelhos sonoros. Gosto de ouvir o som do ambiente, o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas ao vento, as ondas do mar, o barulhinho da chuva, os passantes, ou o silêncio... e fico ligeiramente irritado quando alguém já chega colocando “música” em todo lugar e a todo instante e já partindo do pressuposto -enganoso-, de que todas as pessoas gostam das mesmas coisas sempre, como por exemplo, ouvir o Alceu Valença o tempo todo... e olha que gosto muito do Alceu.

Tenho pensado porque logo eu que adoro música tenho me aproximado tanto do silêncio e do som ambiente, mas isso foi um processo lento e natural que foi acontecendo... e fico me perguntado se é porque estou envelhecendo, mas não vejo isso acontecendo com os amigos da mesma idade que seguem barulhentos como eu também sempre fui!? Ah, então porque será? Não sei!

Agora fiquei sabendo que uma equipe de estudiosos e adeptos do som ambiental, estão construindo grandes megafones para ouvir os sons da natureza, em lugares para descanso, cura e contemplação e que é um movimento crescente esta apreciação do som ambiente e então descobri hoje que não estou tão só assim, o que me trouxe um certo conforto.

Esses megafones estão sendo colocados estrategicamente nas florestas europeias para que, quando um caminhante estiver no centro, o som da floresta os envolva com o tipo de som surround natural de 360 ​​graus ao qual nossos sistemas de entretenimento doméstico só podem aspirar segundo os engenheiros e especialistas envolvidos no projeto. Os megafones sem eletricidade são gratuitos para todos os amantes da natureza e permanecerão nas florestas, teoricamente, até que a madeira seja recuperada pela natureza.

Aqui na contramão, as praias estão cada vez mais poluídas pelas músicas-lixo que jorram das milhares de caixinhas de som que empesteiam o ambiente, onde quer que você vá.

Embora eu goste muito do som ambiente de onde quer que eu esteja quase sempre, as vezes há momentos em que gosto de ouvir musica e fico ruidoso também, em ocasiões mais festivas digamos, ou então no dia a dia em casa mesmo na barulhenta Sampa, muitas vezes ligo o som e fico ouvindo musica em volume alto e tal, mas não é o tempo todo e a noite gosto de ouvir a voz da Narayana Borges no telejornal da meia noite para embalar o sono. 

No litoral, as vezes coloco Mauro Senise, John Cotrane, Ricardo Silveira, etc, como fundo musical para leitura ou conversas, mas ainda sim não muito alto para não competir com o canto das saíras no Flamboyant ao lado da janela, nem com o som das ondas quebrando...

Por outro lado, também tem hora que só um Ministry mesmo para colocar as coisas no lugar, mas de modo geral tenho preferido mesmo o som do ambiente.

Outro fenômeno que tenho observado são as alterações brutais no gosto musical de todos nós...  Parece que fomos todos mudando rápido a partir de certa altura da vida pós-internet e está cada dia mais difícil -se não impossível-, ouvir música conjuntamente pois o que parece agora divino para alguns, soa como um tormento para outros, de maneira que os megafones da natureza que descobri hoje, parecem cada vez mais atrativos. 

Para ver imagens de alguns deles instalados e funcionando, clique aqui.