Num raio de uns quinhentos metros da casa dos meus pais em Jataí-Go sobrou uma única família dos meus tempos.
Onde eu armava arapucas e caçava tatús tem agora um prédio vistoso de doze andares. Alias, a última coisa que eu faria se vivesse aqui seria me engaiolar num edifício, mas como dizia Freud “somos o que nos falta”. O povo aqui agora só pensa em ir ao shopping. Sim esta desgraça dos tempos modernos já chegou aqui e é o “must” comer na praça de alimentação (agh!) um subway, mc Donald´s, girafas etc, ou ficar em casa e pedir um “Delivery” tudo tudinho muito chic como se vê nas novelas e filmes. De outro lado, eu também segundo o axioma atribuído ao velho Freud, procuro uma galinhada com pequi, uma coxinha sem pressa feita com massa de batata, a cachaça artesanal do Zé-Rodrigues acompanhada de um naco de linguiça de porco caipira, porque para os padrões vigentes eu sou antigo e brega, ou no máximo, excêntrico. Isso sem falar das minhas refeições que minha mãe já sabe que precisa ter milho refogado com cebolinha, gueroba, quibebe, cortado de abobrinha com jiló e arroz com suã, senão eu dou chilique e faço inflamado discurso anti-modernidade (risos) com ofensas aos traidores do modo goiano de comer. Fotos da comilança de hoje, aqui
Perguntei
por que precisam de quatro carros aqui em casa e as explicações são variadas,
mas o fato é que quase todo mundo tem uma picape (quase do tamanho de um
ônibus) pra ir à padaria ou ao banco que fica bem pertinho.
Como
acontece em quase todas as cidades do Brasil se você não tiver um carrão e uma
TV de 60 polegadas (mesmo que a sala tenha só 2m x 2m), você é um pobre
lazarento, Então agora também aqui já temos congestionamentos, estacionamentos e Casas Bahia...
Da música
breganeja eu nem falo nada porque é uma metástase nacional.
Mas os
demônios que me assombram quando volto aqui são relativos à infância/adolescência, período especialmente sensível onde -para o bem e
para o mal-, é forjada e definida a nossa existência...
Tem ainda
os espíritos dos Jatobás em cuja sombra eu brincava, fazia confissões e mais
tarde descobriria a sexualidade algo dolorida, na época. Eles continuam frondosos todos aqui
em frente de casa numa área milagrosamente salva e transformada agora num
parque e testemunhando a passagem do tempo. Alguns anos atrás quando meu pai ainda conversava, ele me contou que
quando era criança esses Jatobás eram do mesmo tamanho e alguns ficavam nas
terras do meu avô e ele (meu pai) tinha um cavalo que se chamava moquinha que
sempre empacava debaixo de um deles rsrsrs... bla,bla,bla...
Não sei
precisar o quanto vivem esses jatobás, mas eles são talvez, minha mais umbilical
ligação com o passado e testemunhas da infância e adolescência marcadas por
todo tipo de horror e terrorismo físico e psíquico, infringidos pela doentia repressão
religiosa e parental nos anos 60 e 70 e que moldaram a relação de amor e ódio com o lugar e as pessoas por aqui
e é por isso que eu exclamo; Cadê meu
Analista?
Um comentário:
Belo texto, por detrás dos Jatobás além dos lampejos da sexualidade infantil, descobrimos poesia e afeto; Mais coisas se encontram por trás de Jataí, do que nossa vã filosofia pode sonhar...
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