A máxima repisada de Nelson Rodrigues “A unanimidade é burra” nunca foi tão lembrada
como ontem por mim, que por razões supervenientes tive que circular pela cidade
em lugares que evito até em feriados, a saber; Rua Oriente, 25 de Março,
shoppings e outras embaixadas do inferno rsrsrs. Levei 35 minutos para vencer
três quarteirões entre bolsadas, esbarrões, sacoladas, buzinaços, etc.
Ocorre que para além da unanimidade as tais
festas natalinas são ocasiões TOTALITÁRIAS porque não comportam nenhuma
alternativa. Basicamente não amar o natal e não participar da histeria natalina
á quase comparável a cometer um crime hediondo tipo infanticídio, matricídio
etc... você é condenado, um pária destinado ao limbo eterno se não “confraternizar”.Bem que poderia ser uma festa mais democrática como o carnaval, por exemplo: Comemora quem quer e quem prefere alternativa pode ir para a praia, sitio ou se isolar nas montanhas etc..., mas não, não há alternativa, pois ninguém admite que você não ache o natal o máximo! E haja explicações e contorcionismos verbais para dar sentido à toda bobageira natalina afff!
O mundo para no Natal. Agh! Ainda que você queira
ir para as águas termais de algum balneário ou para os confins da galáxia,
haverá apenas natal lá também. Mesmo o ano tendo 365 dias todos precisam se
reunir no dia 25 em torno daquela arvore brega, para comer, comer e comer e nos
casos mais agudos ouvir as infames musiquinhas do natal rsrsrs... e trocar
quinquilharias bem embaladas.
Desafiar a medíocre ditadura das
unanimidades é coisa perigosa. Certa vez em outra data cretina que é o dia dos
namorados, tive que me ausentar do bar mais cedo e deixar minha namorada na
companhia dos amigos porque no dia seguinte ia levantar muito cedo, certo de
que ela compreendia que eu gostava dela independentemente da data elegida pelas
conveniências das associações comerciais e paguei caro pela “audácia.” Assim sendo, mesmo não tendo saco para o bom
velhinho, tratarei de abraçar um dos cem mil convites para “passar o natal.” Sim, quando você não tem família, todos ficam
preocupados aonde você vai “passar” o natal com medo de que você corte os pulsos.
Então convites espocam aos milhares.Muito tempo atrás quando morava na zona norte minha namorada veio de Botucatu passar férias comigo e passamos o natal dormindo como um dia normal e sem nenhuma inovadora forma de apresentação das proteínas, carboidratos, etc e novamente eu achava que ela compreendia meu tédio com o natal, mas anos depois na última desavença -fatal-, ela esgrimiu aquela última e insuperável mágoa que foi passar um natal sob os lençóis (que eu particularmente considerei uma delicia), porque para ela, não ter o perú da Sadia e a música da Simone, a bendita árvore que pisca e o famigerado amigo secreto, foi o fim!
Por tudo isso, sim eu provavelmente
degustarei aquele tender inundado de sódio e recoberto com algum ingrediente adocicado
em alguns lugares, para fugir da danação eterna e demais consequências que perseguem
implacavelmente quem se atreve a não ficar histérico em Dezembro.
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