quarta-feira, 7 de junho de 2023

Os sons...

De uns tempos pra cá, quando vou para o litoral ou para o interior, ou até mesmo em casa, as vezes evito ligar aparelhos sonoros. Gosto de ouvir o som do ambiente, o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas ao vento, as ondas do mar, o barulhinho da chuva, os passantes, ou o silêncio... e fico ligeiramente irritado quando alguém já chega colocando “música” em todo lugar e a todo instante e já partindo do pressuposto -enganoso-, de que todas as pessoas gostam das mesmas coisas sempre, como por exemplo, ouvir o Alceu Valença o tempo todo... e olha que gosto muito do Alceu.

Tenho pensado porque logo eu que adoro música tenho me aproximado tanto do silêncio e do som ambiente, mas isso foi um processo lento e natural que foi acontecendo... e fico me perguntado se é porque estou envelhecendo, mas não vejo isso acontecendo com os amigos da mesma idade que seguem barulhentos como eu também sempre fui!? Ah, então porque será? Não sei!

Agora fiquei sabendo que uma equipe de estudiosos e adeptos do som ambiental, estão construindo grandes megafones para ouvir os sons da natureza, em lugares para descanso, cura e contemplação e que é um movimento crescente esta apreciação do som ambiente e então descobri hoje que não estou tão só assim, o que me trouxe um certo conforto.

Esses megafones estão sendo colocados estrategicamente nas florestas europeias para que, quando um caminhante estiver no centro, o som da floresta os envolva com o tipo de som surround natural de 360 ​​graus ao qual nossos sistemas de entretenimento doméstico só podem aspirar segundo os engenheiros e especialistas envolvidos no projeto. Os megafones sem eletricidade são gratuitos para todos os amantes da natureza e permanecerão nas florestas, teoricamente, até que a madeira seja recuperada pela natureza.

Aqui na contramão, as praias estão cada vez mais poluídas pelas músicas-lixo que jorram das milhares de caixinhas de som que empesteiam o ambiente, onde quer que você vá.

Embora eu goste muito do som ambiente de onde quer que eu esteja quase sempre, as vezes há momentos em que gosto de ouvir musica e fico ruidoso também, em ocasiões mais festivas digamos, ou então no dia a dia em casa mesmo na barulhenta Sampa, muitas vezes ligo o som e fico ouvindo musica em volume alto e tal, mas não é o tempo todo e a noite gosto de ouvir a voz da Narayana Borges no telejornal da meia noite para embalar o sono. 

No litoral, as vezes coloco Mauro Senise, John Cotrane, Ricardo Silveira, etc, como fundo musical para leitura ou conversas, mas ainda sim não muito alto para não competir com o canto das saíras no Flamboyant ao lado da janela, nem com o som das ondas quebrando...

Por outro lado, também tem hora que só um Ministry mesmo para colocar as coisas no lugar, mas de modo geral tenho preferido mesmo o som do ambiente.

Outro fenômeno que tenho observado são as alterações brutais no gosto musical de todos nós...  Parece que fomos todos mudando rápido a partir de certa altura da vida pós-internet e está cada dia mais difícil -se não impossível-, ouvir música conjuntamente pois o que parece agora divino para alguns, soa como um tormento para outros, de maneira que os megafones da natureza que descobri hoje, parecem cada vez mais atrativos. 

Para ver imagens de alguns deles instalados e funcionando, clique aqui.