sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Natal

Bernard Shaw, o brilhante dramaturgo e frasista irlandês, disse certa vez que o melhor lugar para passar o Natal era um longínquo país oriental no qual a data não fosse comemorada. Concordo com ele e vou além porque fico raivoso em ver o povo bovinamente movendo-se nas ruas e shoppings estupidamente sem nem ao menos saber porque e transformando tarefas simples como ato de entrar num supermercado para apanhar nossa cerveja de cada dia num verdadeiro inferno. O Trânsito então nem se fala. E o que dizer das luzinhas chinesas, o chato do papai noel e a famigerada árvore de natal. Uma coisa sem sentido algum para mim e a histeria comercial? Afff!
Segundo um estudo ("Scroogenomics - Why You Shouldn't Buy Presents for the Holidays") da famosa escola de administração da Universidade da Pensilvânia, Para quem os recebe, nossos presentes valem apenas 53% ou seja 47% gasto com presentes são dinheiro jogado no lixo. O Psicalista Contardo Calligaris analisando o estudo, levanta questões interessantes:

... Por que oferecemos presentes de natal? Resposta óbvia: para produzir a maior satisfação possível no presenteado, para fazê-lo feliz. Talvez, mas vamos devagar. Por exemplo, é bem possível que a troca natalina de presentes seja sobre tudo um gigantesco "potlatch", como dizem os antropólogos, ou seja, uma maneira de torrarmos festivamente nossos recursos (dinheiro, bens e tempo) só para manifestar nossa riqueza (grande ou pequena) aos outros, ao céu e a nós mesmos. Além disso, cada um presenteia amigos e inimigos por razões que pouco têm a ver com a intenção de fazer o outro feliz. Há presentes pedagógicos e paternalistas (ofereço um vale-livros ao primo que não gosta de ler e uma camiseta P ao maridão que virou um boto), assim como há presentes que servem só para cumprir o protocolo ou para intimidar os presenteados (no estilo: "Este, meu caro, você nunca vai poder retribuir".)

... Quando alguém que amo (e que me ama) me oferece um presente, não espero receber aquele objeto que quero e procuro há tempo -claro, vou gostar de receber isso, e vai ser uma festa, mas, cá entre nós, esse tipo de coisa posso encontrar e comprar sozinho. De quem me ama, espero muito mais: espero receber algo que, até então, literalmente, eu não sabia que eu queria.
O verdadeiro presente é aquele que me revela meu próprio desejo.
...(continua)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Buddy Guy


Estava em casa na modorra de um domingo de ressaca quando fui convocado a comparecer no Open Jazz -da horrorosa Cia Telefônica- e lá fui eu sem almoçar e sob terríveis calafrios e vertigens mas escoltado pela Renata e Mônica que gentilmente me apanharam em casa. A primeira apresentação foi da diva do jazz Dianne Reeves que gastou seu vozeirão num repertório que misturava Jazz, soul e rhythm'n'blues que já conseguiu me trazer de volta à vida, apesar de o local não ter os tradicionais quiosques nem ambulantes e conseqüentemente nada para beber e nem comer (coisa de organizadores infelizes e que combina com o padrão telefônica de pensamento) debaixo de um sol de 29C...
Em seguida entrou a lenda Buddy Guy no palco justamente aquele que segundo Eric Clapton é “o melhor guitarrista de blues, vivo” e como era de se esperar, não decepcionou. O cara simplesmente fez uma apresentação incendiária como cabe a um guitar hero de primeira: Fez de tudo com com sua guitarra... Tocou com uma mão, com sua guitarra nas costas, usou os dentes para tirar sons das cordas e a certa altura pegou a baqueta de seu baterista para tocar e inovando tocou até com a camisa, fazendo sua fender, chorar, cantar, gritar, gargalhar... Muito feeling e num momento mais intimista, deixou o palco e seguido pelos seguranças e fotógrafos, atravessou a área vip e foi tocar mais próximo das pessoas na platéia e distribuindo palhetas, etc Depois ainda convocou Dianne Reeves para uma canja. Demais!
Esse senhor de 73 anos que mais parecia um quarentão, cantou temas de Muddy Waters, John Lee Hooker além do próprio repertório levando a galera ao delírio com "Damn Right e I've Got the Blues" e foi então que já no finalzinho mandou bala num medley de "Voodoo Chile"(Hendrix) e "Sunshine of Your Love”(Cream)... e o mundo veio abaixo. Mesmo desidratado àquela altura ainda encontrei forças (risos!) para agradecer por estar vivo e ali. Um momento mágico e inesquecível de presenciar do que é capaz o gênio humano. Buddy Guy, saiu do Palco ovacionado enquanto a banda derramava "I Go Crazy" de James Brawn. E eu quase não fui por conta de uma esbórnia na madrugada anterior.
Que bom estar vivo! Tenho dito.