Parecia até que ele tinha acabado de sair de um desses cursos positivistas do tipo "você pode tudo". (risos!) Perguntamos: Dá para ir de São Paulo à Itanhaem em um dia e meio? O índio: Dá. Tem água potável no caminho? Tem, retrucou meio sem entender... A trilha é boa ? Sim! (na verdade ela só existe na cabeça dele) e assim por diante.
Bem, depois de demorar três dias e percorrer uns 40 km excruciantes, com mochilas de 15 Kg na mata atlântica (sem ver trilha alguma) e outros “perrengues” como encarar um declive de 302 metros em apenas 2,7 Km, descobri com a ajuda da Andrea, que os índios, apesar de aculturados e vestidos como garotos do subúrbio de Los Angeles (incluindo camisa e bonés dos Lakers), ainda conservam muito de sua cultura como a incrível destreza na mata que é o seu habitat e uma singular compreensão da realidade em relação a nós.
Perguntei a ele se trabalhava e ele me disse que sim (somente às terças feiras). Quando eu quis saber se estava perto de um ponto para acampar, porque estava exausto, ele disse que sim e nós ainda caminhamos 6,7 Km na mata fechada.
Aquilo que levamos três dias para percorrer, quase exaustos, eles gastam um dia apenas e chegam inteiros. Acho que deve ser de alguma experiência assim que alguém tirou a expressão “programa de índio” porque eles são foda demais!
A certa altura eu queria estrangular o cara quando eu perguntava uma coisa e a resposta dele não "fechava" como: Falta muito para o ponto de descanso? Ele respondia: Pouquinho, só! Para então caminhar mais uma légua e meia rs,rs,rs... e, -pasme- atravessar descalço um rio gelado de noite com as botas nos ombros e mochilas na cabeça.
Enfim foi uma trilha bem puxada, mas finalmente pudemos realizar o desejo de atravessar o que ainda resta da mata atlântica e desfrutar desse bioma maravilhoso. Eu conhecia o cerrado (onde nasci) e seus constituintes como matas, capoeiras, capões, covais, chapadões etc., e a caatinga de outras andanças, mas a floresta atlântica, eu nunca tinha visto a não ser, pela janela do carro na rodovia dos imigrantes, e e ela mais parece um Jardim! Muitas plantas exóticas e uma enormidade de regatos cristalinos por toda parte, palmitos, árvores centenárias, cipós, samambaias gigantes e tudo muito perfumado!
Para ver algumas fotos e um esquema que mostra o trajeto feito, clique aqui.
Enquanto caminhava ja mancando perto do fim, lembrei dos bandeirantes, jesuítas, etc. que faziam esses caminhos corriqueiramente. E até de D. Pedro que atravessava a serra, só para ver sua amante, heim? (amor pra lá de 40 km... rs,) Afff.
Resumindo; umas bolhas nos pés e algum cansaço não são nada se comparados com o prazer que foi estar ali dentro daquele jardim com o Mané, Andrea, Rui, Theo, Juliana, Eunice e o Biguái (guia). Graças ao arquiteto dessa floresta, lá não funciona celular. Por isso, ainda é possível sentir um gostinho do “perigo” da selva e a curiosa sensação de sermos bichos (estranhos) também, a apenas alguns kilômetros da 4ª maior cidade do mundo. Para ver fotos da Juliana postadas no Orkut, clique aqui.
Para quem quiser fazer esse passeio eu sugiro planejar e preparar bem a uma mochila para esse trajeto com no máximo 8 kilos, deixar a pressa trancada na gaveta, e não esqueçer de levar bússola, barraca, comida e demais itens necessários para uma trilha media pra difícil e sempre acrescentar 70% nas respostas do guia índio, para evitar perrengues e desfrutar de relaxamento/comunhão com o ambiente no tempo próprio dalí.