terça-feira, 7 de outubro de 2008

O poder do pensamento

Descí para comprar um jornal e voltando liguei o computador para dar uma "sapeada" e já ví a mesma manchete cravada em todos os portais: “Mercado desaba por medo de recessão global." Europa, EUA, Ásia, e aqui bolsas ficam irracionais..., etc. Parece até que o fim do mundo se aproxima...
Entre as várias explicações para o desastre financeiro que ameaça atingir a todos nós, uma bem interessante partiu de Barbara Ehrenreich no New York Times, que diz mais ou menos o seguinte: Nos últimos anos uma “onda” de positivismo propagada por gurus do pensamento positivo e hordas de pastores de superigrejas e, mais um maciço bombardeio de best-sellers de auto-ajuda, corroeram o bom senso.
A crença que diz que, para conseguir o que a gente quer, basta "mentalizar", “acreditar firme”, “desejar ardentemente o objeto de sua ambição”, e ”a Energia”, “o mundo”, “Deus” etc, responderão prontamente a seu pedido, seria um forte componente da onda de irracionalidade que impulsionou para o desastre.
Agora na hora da onça beber água, os compromissos assumidos com base no otimismo não puderam ser honrrados com pensamento positivo nem a tal mentalização. Só dinheiro mesmo. Deu no que deu!
As estantes das livrarias convidam há anos cada um (principalmente os executivos) a ser tresloucadamente otimista e confiante. Nos seus sites, os consultores e conferencistas motivacionais ainda listam orgulhosamente, entre seus clientes mais importantes, Merril Lynch, Lehman Brothers... (risos...) Previsivel e patético o comportamento da manada.

5 comentários:

Anônimo disse...

O pior é que o "ferro" sobra mesmo é para nós, o Zé povão.E quem recebe a juda dos governos (que tira do bolso do contribuinte)são os banqueiros e os muito bem pagos executivos desses bancos que são os principais(E tenho certeza que em grande parte mal intencionados) responsáveis pela merda que está acontecendo

Ari disse...

Manada! Não há melhor maneira de designar essa malta crédula, e pronta para ser enganada pelos arautos do mundo "by your self". A tradição judaico-cristã, desde há muito, nos tem avisado que há mais sabedoria num velório que numa festa, ainda que deva haver espaço para festa, que deve ser momento de refrigério, porque num mundo com a configuração que lhe demos, só irresponsáveis acreditam que têm poder de transformar tudo em festa. E, como disse o Herculano, tome povão... é a corda arrebentando do jeito de sempre!

Judith disse...

Ricardo, sobre a citação da Barbara Ehrenreich, de que a tropa de pastores das mega igrejas e a enxurrada dos livros de auto-ajuda têm uma participação na responsabilidade pela crise, fico pensando no famoso slogan do biscoito Tostine: é fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?

Ou seja, os pastores da teologia da prosperidade pregam o que pregam, do jeito que pregam - e escrevem boa parte dos livros de auto-ajuda, também - porque encontram mentes ávidas exatamente por aquele tipo de mensagem ou o contrário?

Será que eles teriam a audiência que têm, o "poder" que tem em influenciar tantas pessoas - estudadas, esclarecidas, diga-se! - se não houvesse neles o desejo de fazer justamente a escalada social e financeira que fizeram? Tantos livros seriam escritos se não houvesse leitores sedentos de encontrarem aquela chavinha que os levará a ganhar, ganhar, ganhar?

Minha desconfiança é que aqueles existem por conta destes. Se retroalimentam, é verdade. Mas sem a cobiça, a vontade de vencer, e vencer sem se sentir culpado, sem o desejo de não ser visto como um looser é que faz surgir os pastores televisivos e seus sermões de prosperidade e todos os sub-produtos que se seguem.

Usando uma linguagem do mercado, me parece que a teologia da prosperidade, as mega-igrejas, os livros e os consultores de "sucesso" existem justamente porque preenchem uma lacuna de mercado, porque atendem uma demanda existente para seus discursos.

Indra disse...

Pois é. Nunca "comprei" aquilo de que o Brasil está indo muito-bem-obrigado. Como pode o Brasil ir tão bem num mundo tão ficticio e desastrado? Agora, basta rezar para não perder TUDO AQUILO que compramos ficticiamente, TUDO AQUILO que pensamos algúm dia ter, TUDO AQUILO que ainda temos. May the force be with us all!!!!

Ricardo Reis disse...

Olha, esse "É fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?" será sempre enigmático. Não saberia dizer mas parece que muita gente que embarcou nessa onda de positivismo. O certo é que entre 2004 e 2006 quase todo mundo que eu conhecia lá, entrou na farra. Cheguei a receber 2 propostas para comprar casa de 4 quartos o que sempre me pareceu uma insanidade. A maioria embarcou sem pensar que no futuro. Tenho amigos que pularam fora antes do barco afundar mas muita gente vai se f.. agora.