quinta-feira, 2 de julho de 2009

O apartheid nosso de cada dia...

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"Quem escreve um cartazete sugerindo que uma cerca de oitenta centímetros de altura, foi construida para proteger o acervo da pinacoteca dos sofisticados ladrões de obras de arte, desdenha da inteligência alheia"

É absolutamente incrível a compulsão das “otoridade” em geral de construírem muros, grades etc, como forma de racionalizar, melhorar e até de embelezar (na ótica deles, que fique bem claro), os poucos espaços públicos de São Paulo.
Esta visão canhestra e subjacente à mentalidade típica de centenas de apaniguados pendurados nas tetas dos governos, produziu agora mais uma de suas atrocidades higienistas, daquelas também típicas de políticos que querem intervir no centro da cidade, mas sempre do ponto de vista de quem vive no Jardim Paulistano. Vejam só: O café da Pinacoteca do Estado,
que dá para o belo jardim da luz, agora foi cercado com uma mureta de uns 80 centímetros de altura, assassinando completamente a atmosfera aprazível e a sensação de liberdade e largueza que antes existia quando interligava o jardim e a pinacoteca. O visitante ao terminar o périplo interno, tomava um café e podia prolongar o passeio no jardim entre as esculturas de Lasar Segall, Brecheret... e também os habitues do parque, tinham a opção de ao final do seu passeio diário, saborear um cappuccino ouvindo o burburinho dos pássaros nas frondosas figueiras ali em frente enquanto folheava o jornal. No entanto, repentinamente sob o risível pretexto; motivos de segurança do acervo, ergueu-se uma muretinha de vidro ali que, não servindo para barrar experimentados “mãos leves” de obras de arte, funciona bem como mais um apartheid separando os dois (tipos?) públicos. O café agora se assemelha a um curralzinho com a tal cerca, ali como um corpo estranho interrompendo o outrora bonito diálogo arquitetônico entre a pinacoteca e o Jardim. E Por quê? provavelmente porque os construtores de muros, acham que acima do conceito urbano-paisagista que valoriza a noção de conjunto e inteiração, deve se impor a fria racionalidade dos muros e grades que silenciosamente demarcam o lugar de cada um. É o triunfo da linguagem subliminar e funcional sufocando mais uma vez a Beleza. Incrédulo, ainda procurei um portãozinho, uma passagem que fosse para entrar e tomar meu café como sempre fazia, mas não, nada! O segurança me observando a tatear a ridícula cerquinha, exclamou: Moço, agora só por dentro do museu, viu? Enquanto isso, a Zarha latia ansiosa sem entender a razão da demora em achar nossa mesa e eu sem ter como explicar a ela essas idiossincrasias humanas, rumei para a padaria do café ralo, mas democrático, com aquela horrivel sensação de quem foi tungado.

Se você também acha que a mentalidade autoritária travestida de pretensa racionalidade administrativa de construir cercas, muros e grades pela cidade inteira, não seja a solução para todos os males, divulgue!

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom! Reflete bem a indignação com uma situação que poderia ser resolvida de outra forma mas, por pura preguiça dos administradores, mais fácil é colocar cerca em tudo, e concordo com tua visão de que é mais uma forma - entre tantas - de apartheid social. na falta de conseguirem lidar bem com a população que frequenta o parque, a pinacoteca resolveu criar uma linha de separação entre os 2 públicos talvez em virtude dos esnobes visitadores da pinacoteca reclamar da gentalha.
Triste!
Ando, ando passada com a quantidade absurda de moradores de rua pela cidade. antes, vc via isso embaixo do minhocão e talvez aí na região da luz e agora, nos 4 cantos da cidade e muitos, muitos, muitos. Parece cenas da india, o país, não a novela. a sujeira da cidade, que antes parecia incomodar só vc aí na tua vizinhança, agora está espalhada por todo lado e as calçadas esburacadas que são verdadeiros atentados. fora o transporte público, uma calamidade.
Fico pensando se estivéssemos numa prefeitura com uma visão mesmos elistista, o quanto a mídia gorda, branca e endinheirada estaria reclamando. Da prefeitura atual, entretanto, não ouço nada.
Saco!