quarta-feira, 11 de junho de 2008
A "Nova Luz" - Afogando em lixo
Em meados do ano passado a prefeitura de São Paulo anunciou o projeto Nova luz (clique aqui e veja que interessante) que ressuscitaria o degradado bairro da Luz. Seria "uma das maiores intervenções urbanas já realizadas em São Paulo, numa área que envolve aproximadamente 225 hectares de um bairro estigmatizado". Prenunciando o fim da cracolândia, foi dado o pontapé inicial com o fechamento de alguns "hotéis" e fiscalização de funcionamento de vários estabelecimentos com apreensões de mercadoria etc. Passado aquele momento inicial de publicidade, TV's, etc..., a impressão foi de que o rítmo arrefeceu pelo menos para os moradores do bairro que conhecem bem a realidade.
Por outro lado também não é justo esperar que o poder público resolva todos os problemas. A situação do lixo nas ruas e no entorno da belíssima estação da luz -por exemplo- não é um problema exclusivo das autoridades que, claro, não vivem na luz e nem lançam dejetos na via pública. (basta ir ao Jardim Paulistano onde a grande maioria deles vivem, para ver que beleza de bairro).
Alguém já disse que o Brasileiro mediano, típico mesmo é um sujeito engraçado: joga lixo nas ruas durante o dia entupindo bueiros e quando chega a chuva da tarde que inunda tudo, dirige-se ao boteco mais próximo para entre um gole e outro falar que o governo, prefeito, presidente, etc, não fazem nada contra os mosquitos, as enchentes, bla,bla,bla.. Não estou aqui a dizer que as autoridades não tem sua contribuição nas mazelas, mas não são os únicos e nem podem sozinhos resolver todos os problemas causados por milhares de pessoas sem a mínima noção de cidadania.
Durante alguns dias dediquei-me a coletar cenas/ fotos da absurda situação do entorno da Estação da Luz, recentemente restaurada. São 82 fotos que ilustram a inacreditável precariedade sanitária que faz a Av. Casper Líbero parecer um LIXÃO em pleno dia. Houvessem urubús no local, o quadro seria completo. Nessa avenida, nos últimos 300 metros (único bloco) que antecede a estação, converteu-se há muitos anos em local de desova: Móveis, roupas, vasos, pias, tijolos, cachorro morto, restos de construção, toneladas de lixo orgânico dos bares e restaurantes, edifícios etc... Para ver mais fotos , clique aqui
Tudo isso começa a ser depositado na pobre avenida às 7 horas da manhã sem cerimônia e continua por todo o dia, sem que nenhum fiscal ou agente do serviço público compareça para coibir. Assim, por volta de meio dia as montanhas de lixo muitas vezes, atingem mais de um metro de altura. Para piorar vêm os catadores de latinhas e outras pessoas que vivem do lixo e começam a rasgar os sacos e a revirar tudo de tal maneira que por volta de 1:00 hora da tarde a rua fica tomada pelo lixo, chorume, moscas e às vezes ratos, até à meia noite quando vem a força tarefa da prefeitura desobstruir e lavar a rua.
Em volta da estação durante todo o dia são encontrados sacos e montanhas de lixo (conforme se pode observar em todas as fotos) que se acumulam em volta da estação dando a sensação de que se está num lixão, porque não se respeita o horário para colocar o lixo na rua. É notório também que os passantes "se livram" do lixo no último quarteirão antes de adentrarem a estação, jogando na rua, porque varias razões como: falta de educação, ausencia de lixeiras que são destruídas pelos vândalos no mesmo dia que são instaladas e quando tem, são diminutas para as toneladas de lixo.
A impressão geral é que a prefeitura desistiu daquele quarteirão, porque não se nota nenhuma ação para resolver isso. Não acho que a prefeitura seja responsável direta pela situação. Não é isso, mas de alguma maneira, por essa área ter sido abandonada por anos seguidos e compreendida como “desova”, aterro sanitário ou depósito de lixo 24 horas, haveria de ser pensada como um caso à parte e estudadas soluções adequadas dado a especificidade daquele bloco pois, desconheçe-se um quarteirão que produza toneladas de lixo diariamente. São milhares de pessoas rumo à estação que vêem nesse quarteirão sua última chance de jogar o lixo fora, porque sentem que já estão num chiqueiro então um lixinho a mais... Há entidades como o Viva o Centro que desenvolve ações locais porém uma única vez que tentei conversar com pessoas e comerciantes da região sobre nos organizarmos para isso não obtive nenhum retorno ou entusiasmo pela idéia. Todos disseram que "que não tem jeito."
Nesse processo de revitalização da Luz existem problemas vários de resolução demorada e nesse caso a prefeitura e demais entidades e a população podem se justificar, mas montanhas de lixo largadas durante o dia a céu aberto, no coração da cidade e ainda por cima antes do horário previsto em lei é um problema de saúde pública que pode ser solucionado em poucas semanas se houver vontade e envolvimento de todos. Afinal de que adiantou a restauração da estação centenária e a inauguração do Museu da língua portuguesa se estão adornados por lixo o dia todo?
O Pior é que de tanto conviver com a situação, ninguém mais nota a anormalidade. Vira uma coisa "normal" sair pulando e desviando do lixo pra se chegar ao Museu High tech.
Tempos atrás, a praça Roosevelt estava tão degradada quanto e se reergueu totalmente a partir da ação local das pessoas que se organizaram. Um bom exemplo. Que tal ?
Também, se o poder público comparecer com um sistema de coleta adequado às necessidades singulares e principalmente medidas inibidoras contra aqueles que insistem em depositar o lixo na via pública antes das do horário previsto, seria de grande ajuda. Diria que, se o poder público comparecesse com medidas coercitivas na mesma intensidade, freqüência e energia usada na apreensão de mercadorias dos ambulantes, na mesma quadra, as coisas estariam infinitamente melhores, com toda certeza.
Então, a insistência em expor o problema e tentar despertar as pessoas para o fato de que isso não pode ser aceito como normal. Não podemos nos acostumar com calçadas úmidas o dia todo e montes de lixo por todo o lado porque não estamos mais na idade média. É necessário criar uma associação de moradores e solicitar a fiscalização da prefeitura, etc, mas como está, não pode ficar.
Clique sobre as fotos para ampliar
Esse é um ano de eleições e oportuno para conseguir atenção dos político ávidos por votos. Vamos valorizar nosso voto. Passe essa idéia à frente, vamos fazer isso chegar às TVs, jornais, subprefeitura, etc.
PS: Contribuições e/ou atualizações sobre esse assunto serão bem vindas !
Se você chegou até aqui passe essa idéia adiante e vamos nos indignar contra essa sujeira.
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4 comentários:
Parabéns! Acho que é assim que a gente pode começar a mudar as coisas em nosso lindo país! É a nossa responsabilidade mesmo!
Eu realmente me pergunto se todos esses seres imundos que jogam lixo na rua, cuspem (após o prévio barulho para disparar a saliva), defecam e sabe Deus quantas coisas mais, merecem estar na Terra. Vc realmente acha que há um meio de ensiná-los a ser civilizados? Ou estamos falando aqui de um grupo completamente "quebrado" que não dá nem para mandar para conserto? O que é que fazemos com esses agentes poluidores? As ONGs estão aos montes dando cursos de cidadania, artes manuais, música. Todas elas em Paraisópolis, Heliópolis e o chamado subúrbio. O centro está esquecido até pelas ONGs. Não seria tempo de criar um movimento que realmente tratasse desse tema? Ri, texto super bom. Só achei que poderia enxugar mais as fotos e só mostrar umas 10. O que acha?
Acho que voce tem total razão qunto ao número de fotos. Quais poderiam ficar ?
Parabéns pelas fotos, matéria e,principalmente, pela indignação. É quando começamos a achar as coisas absurdas que elas principiam mudar. Tem toda razão.Da maneira que as coisas estão não podem continuar, temos que fazer algo, mas julgo estarmos lidando com um problema um pouco mais complexo.
Não que eu queira parecer uma pessoa afeita a filigranas desnecessárias, mas o que vejo não é uma simples questão de saneamento,limpeza de rua, e sim um desdobramento do imenso e crônico abandono protagonizado tanto pelas autoridades quanto pela sociedade civil, miséria.
É verdade que existe uma parcela de pessoas que desprezam a coletividade, não possuem um mínimo de civilidade e abandonam seus restos de qualquer maneira, no entanto, não é essa toda verdade, pois existe uma porção de pessoas, não desprezível, que põe o seu lixo na hora certa, em sacos adequados e vê ,espantem-se, homens e mulheres a remexerem os detritos. Rasgando os sacos em busca de sucata e comida.
Se esquecermos desse elemento, pessoas sem um mínimo para sobreviver, buscando sua subsistência no lixo a equação social ficará incompleta e, portanto, insolúvel.
Ora, é legitimo pessoas fazerem qualquer coisa para viverem posto que quero crer que alguém que tenha alguma opção não estaria fazendo o que vi e, dessa forma é impossível pensarmos em limpeza publica sem olharmos para essas pessoas, é a maneira que os sem voz têm para dizer, um muro pichado, uma serie de transgressões as quais aos nossos olhos são sem sentido mas para aqueles que não possuem nada representa algo: rebeldia, não aceitação.
Portanto para vivermos em uma rua limpa, digna, é imperativo que resolvamos ou iniciemos uma resolução ao número excessivo de moradores de rua.Combatendo a pobreza pois prefiro viver em uma rua suja do que em um lugar onde a vida humana é descartada.Portando, valorizar o homem é a chave para qualquer mudança, por isso proponho uma corrente de emails colhendo propostas para este delicado problema. Aguardarei adesões e de acordo com a repercussão organizaremos melhor essa idéia.
Abraço Ricardo. Felicidades. Deivison
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