terça-feira, 5 de agosto de 2008

"Perguntaram pra mim..."

O Grito/Edvard Munch
Viajei 2400 Km em rodovias nesses últimos oito dias em Goiás Minas e São Paulo e durante todo o tempo observei em Goiás e Minas a cada meia hora um incêndio nas APAS (Áreas de Proteção Ambiental) ao longo das rodovias sem que nenhum bombeiro, ecologista, jornal ou outro vivente qualquer, estivesse no local para denunciar e/ou debelar o fogo provavelmente causado pelo esporte nacional de atirar bitucas de cigarro em todo lugar. Pelo que vi, Goiás e a região fronteiriça com o Triângulo mineiro, são terra de ninguém, ou melhor, terra de ruralistas mais preocupados em ostentar suas picapes gigantes e ouvir a “cornomusic” do que com o meio ambiente.
Tão logo cheguei em casa, dei de cara com uma amiga que adora me alfinetar e bem no meio do almoço me perguntou se tenho orgulho de ser Brasileiro e –para minha própria surpresa-, já fui logo dizendo automaticamente que não. Disse que gosto muito do meu País, mas orgulho mesmo, não tenho não.
Entre outras razões e, ou talvez por alguma deficiência do meu equipamento mental, eu não consigo compreender muitas coisas, como essa sistemática e suicida destruição do meio ambiente e a “mania” de jogar lixo por toda parte transformando tudo num imenso chiqueiro. Ecologia é tema simpático, quando se trata da Amazônia que fica lá longe aonde ninguém vai.
Outra coisa, como se pode ter orgulho de um lugar onde é aceito como fatalidade, 267 bebês morrerem somente em um mês numa pocilga-maternidade pública (Belém do Pará) sem que essa barbárie sensibilizasse um bilhonésimo do publico que se comove com o acéfalo “Big Brother?”
Como pode alguém não se indignar com o vai e vem macabro daquela carrocinha com caixões mirins? E a Polícia? Que país é esse, onde a polícia mata mais que os bandidos, (atente só para essa inversão maluca). Como se pode orgulhar de um país que mesmo não estando em guerra, convive bovinamente com a misteriosa entidade; “A bala perdida"? E o que dizer então sobre os 473 analfabetos que são candidatos aos cargos de vereador e prefeito neste ano? Quer mais? Como se orgulhar de um país onde só nos últimos 10 anos foram detectados 28411 trabalhadores escravos e outros 30000 mil em condições análogas? E o que se pode falar do congresso nacional, que ao invés de legislar, parece uma delegacia de polícia cuidando de futricas? Fica mais difícil ainda orgulhar-se quando se constata que o poder judiciário parece existir para garantir previlégios para os de sempre e enjaular pobres e pretos que saem da linha.
Estive essa semana na minha cidade natal (Jataí - Go) que segundo a revista veja é a maior produtora de grãos do Brasil e fiquei admirado com a quantidade de veículos BMW, Audi, Mercedes etc., e também mendigos, pedintes, barracos, condomínios fechados, ruas esburacadas.... E o cúmulo do ridículo para dizer o mínimo, é o fato de uma cidade de 90000 habitantes não ter nenhum hospital aparelhado com UTI mas pululam criaturas desfilando de Audi conversível com aquelas bolsinhas bregas da Louis Vuitton. Com a economia que tem, a cidade poderia ter um IDH decente e ser um modelo, mas contentam-se em perder as virtudes de cidades do interior e adquirir os piores vícios das grandes cidades sem os benefícios das mesmas.
Para fechar com chave de ouro, o Ministro da Agricultura disse hoje, ao contrário do que vem afirmando o presidente Lula, que é favorável ao plantio de cana na Amazônia. clique aqui.
Pois bem, Como disse o Poeta Drummond, “Também sou Brasileiro e Moreno como vocês”, mas às vezes tenho certa tristeza de ser Brasileiro. Não sei se por ter vivido um tempo no exterior ou por alguma deficiência cognitiva, não endosso esse estado de coisas. E se, criticar essas coisas é se enquadrar no denominado grupo dos brasileiros que gostam de falar mal do país, prefiro isso a fazer de conta que o Brasil é como dizem alguns, o Must! E outros, bão demais da conta, sô.

3 comentários:

Indra disse...

Ri, coicidência ou não, eu também me perguntei no meu blog Que país é esse onde a DEShumanização já é tão normal, que o povo pode ver um "bulto" enrolado num cobertor e achar que o cara ou está morto ou está durmindo na maior naturalidade? Pois é amigo. É duro viver no planeta Terra!

Ari disse...

É que o Brasil é brasileiro - de quem o espírito de colônia nunca foi exorcizado.
É que o brasileiro é Brasil - resultado de uma sucessão de golpes.
É que o Brasil não tem identidade, tem latifúndio: rural, financeiro, industrial, midiático - como diria Veríssimo (o Érico): tudo é de estanciero.
Se a gente não reagir, não haverá mais versos para cantar o Brasil, para tristeza do Ari (o Barroso)
Um grande abraço meu amigo

Unknown disse...

Descobri, e fiquei chocada, q aqui tb se joga bituca de cigarro no chao, se cospe no elevador e se toma menos banho do q imaginei. Mas as pessoas pedem licença, dao bom dia, obrigado, etc. Se vc for trocar um produto defeituos, ninguém vai te tratar mal ou achar q vc tá querendo dar um golpe.
Descobri q em mtas coisas somos melhores: saúde, por exemplo e educaçao infantil.
Mas a ,limpeza das ruas me fascina, a eficiência dos serviços públicos e os gastos, honestos, do dinheiro público.
Ñ tenho orgulho de ser brasileira, pq todas mazelas q vc me citou me envergonham...
Mas admiro o afeto q temos em nossas relaçoes, tao ausente por aqui... Os sorrisos...
A crítica é um exercício de inteligência, de racionalidade. Nem todos podem se defrontar com as mazelas de seu país, pois, comodamente evitam tocar nas feridas, pois ñ lhes interessa mudar nada. Os hedonistas de plantao!
Vixe, escrevi outro post e o blog é seu! Risos.
Vc escreve bem viu primo!
Admiro sua inteligência!
Saudades, q se arrastam há uns 11 anos, risos.
Bjs
Cau